Não há mal que sempre dure, nem bem que nunca acabe diz-nos a sabedoria popular, que se confirma na estratégia política de José Sócrates. Depois de dois anos de austeridade, de proletarização forçada e apressada de uma parte da classe média, de diabolização de direitos e benefícios em inimigos do progresso económico, de uma alteração da distribuição do rendimento em favor dos muitos ricos, eis que surge um Sócrates simpático. Começou por distribuir computadores aos bem sucedidos das Novas Oportunidades, lançou um imenso programa de emprego e passou aos benefícios fiscais para as empresas do interior.
É evidente que não estamos perante nenhum milagre, os computadores e o respectivo software tiveram a ajuda de empresas privadas, o programa de emprego recorre a verbas comunitárias e aos recursos nacionais que seriam investidos no sector e os benefícios fiscais pouco custarão ao Estado.
Fica bem a qualquer primeiro-ministro aproveitar uma cerimónia do interior para anunciar benefícios fiscais mesmo que estes tenham pouco impacto ou que só se façam sentir daqui a meia dúzia de anos. Para as empresas instaladas o aumento dos benefícios traduz-se em 5% do IRC, o imposto que poucos pagam, e para as empresas a instalar, que só apresentarão lucros uns quantos anos depois de estarem a funcionar, é que o benefício tem um aumento de 10%. Isto é, José Sócrates fez um figurão sem grande redução da receita fiscal, foi uma pena não ter divulgado qual o impacto desta grandiosa medida no Orçamento de Estado.
Não me parece que seja muito sério aproveitar os fins-de-semana para ir divulgando a conta-gotas as medidas simpáticas do próximo Orçamento de Estado. A política fiscal é demasiado séria para que possa ser vendidas como se fossem amendoins.