Com a direita sem grandes propostas e a discutir qual o melhor entre os piores candidatos a primeiro-ministro, a luta política centra-se naquilo a que na gíria futebolística se designa por campeonato da 2.ª Circular. Uma luta silenciosa entre o PCP e o que restou da extrema-esquerda (ainda que o BE pareça mais o Atlético do que um Sporting) pela liderança comunista em Portugal.
Esta disputa já marcou as autárquicas de Lisboa, com o PCP e o BE a recusarem alianças porque pretendiam medir forças na capital. O PCP vendeu, usando mais uma vez a gíria da bola deu uma abada ao BE. Mas o BE respondeu com uma aliança com o PS que lhe permitiu partilhar o poder na capital, poder que Sá Fernandes está usando para convencer os portugueses que é possível fazer uma reforma agrária nos terrenos abandonados e nos jardins de Lisboa.
Terminadas as férias o BE regressou em força, enquanto o PCP montava os andaimes da Festa do Avante e preparava a agenda de manifs e greve dos profs, o BE imitou a universidade de Verão do PSD e montou o ATL do BE. Entretanto deu cabo de um hectare de milho, ainda que o tenha feito por interposta pessoa pois como quer dar ares de partido responsável, capaz de assumir funções governativas, não ficava bem nem a Louça ou a Miguel Portas andarem de cara mascarada no meio de um milheiral, ainda por cima o meio não é saudável para as suas roupas de marca.
Com o BE a fazer os possíveis para disfarçar o seu programa político, o PCP lança mais uma vez a Festa do Avante, uma demonstração de capacidade de organização e não tem vergonha de assumir o seu património histórico nem de assumir o seu programa político, enquanto o BE se disfarça nas batalhas contra os transgénicos o PCP celebra a Revolução de Outubro. Goste-se ou não o PCP assue aquilo que é e que quer, não se esconde por detrás de uma marca branca com uma embalagem apelativa, mas que nada tem que ver com o seu conteúdo.
Enquanto isso o BE deve estar na praia pois há muito que percebeu que os seus picniques pareciam ridículos, aliás, o BE disfarçou a sua pequenez organizativa ao promover o ATL pois desta forma esquivou-se a medir forças no plano da organização de eventos.
Goste-se ou não a Festa do Avante é uma grande demonstração de capacidade de organização do PCP, ainda que o partido não revele no resto do ano a criatividade e a tolerância dos três dias da festa. Por estas horas Louçã deve estar a roer as unhas de inveja enquanto muitos dos jovens que votam no BE estão na Festa do Avante.
A Festa do Avante encerra um ciclo do campeonato da 2.ª Circular em que o PCP marcou frente ao agrupamento das várias tendências da extrema-esquerda que desde os anos sessenta lhe disputam o estatuto do “partido do proletariado”.