Com a aproximação do fim do verão o ensino torna-se a fruta da época do debate público, primeiro foi o preço dos manuais escolares, depois o problema da colocação dos professores, a seguir as televisões vão em busca de uma professora que mora a duzentos quilómetros da escola onde foi colocada, seguir-se-ão as escolas que não abriram na data prevista e, por fim, seguir-se-á o petisco televisivo das escolas que os pais fecharam a cadeado porque não estão em condições de funcionar. Enquanto o governo não produzir legislação que Cavaco possa vetar, o país vai entreter-se com o ensino.
Por estes dias os sindicatos agitam-se a apontar culpados e a propor falsas soluções para um problema insolúvel, o excedente de professores. É evidente que este problema existe e tende a agravar-se, depois de um boom de alunos resultante dos índices de natalidade e do aumento da idade da escolaridade obrigatória o número de alunos diminui. A agravar a situação temos problemas ao nível do ordenamento do território que conduzem à desertificação de áreas rurais menos rentáveis.
Como de costume o sindicatos cometem o erro de exigir o pleno emprego dos professores, algo que ninguém se lembra de exigir para outras profissões, a não ser a Ordem dos Advogados que se lembra de soluções como colocar um advogado em cada esquadra. Ao ouvir os sindicalistas percebe-se que para eles as escolas são, acima de tudo centros de emprego de professores. Os horários devem ser reduzidos, devem inventar-se tarefas para ocupar professores (mas quando alguém propõe que os professores façam algo mais na escola do que dar as aulas defendem logo que não há condições), enfim, o problema não é do número de alunos, a causa de todos os males está no facto de os governos não abrirem os cordões à bolsa para empregar todos os professores.
É evidente que o que preocupa alguns sindicalistas não é a situação dos professores, se fosse isso questionavam porque motivo os jovens foram até à semana passada a seguirem a via ensino de alguns cursos universitárias, perguntariam ao ministro Mariano Gago porque motivo o Estado mantém cursos universitários para formar desempregados ao promover uma oferta de professores superior à procura gerada pelo sistema de ensino, proporiam um modelo de subsídio de desemprego ajustado à realidade dos professores, exigiram do governo medidas para a reconversão profissional dos professores que nunca encontrarão uma vaga numa escola.
Mas muitos dos nossos sindicalistas estão mais preocupados com a estratégia política do seu partido e com a sua concepção da sociedade do que com a situação dos professores. Ao adoptarem a estratégia do confronto político estão a obedecer a estratégias partidárias que se servem dos problemas dos professores para obterem ganhos político.