segunda-feira, outubro 08, 2007

150.000 empregos?


Sócrates prometeu o que não podia ter prometido, a promessa de criar 150.000 empregos faz pressupor um modelo de política que não é o do Sócrates primeiro-ministro. A dúvida está em saber se essa promessa resultou de ignorância ou de oportunismo eleitoral.

Com um modelo económico assente nas vantagens comparativas, resultantes dos baixos salários, a ceder face à agressividade competitiva das economias asiáticas favorecidas pelo levantamento de barreiras tarifárias, o aumento do desemprego era previsível. Dificilmente a reestruturação da economia daí resultante poderia gerar um saldo positivo na criação de emprego.

Se Sócrates sabia o que ia fazer na área económica nunca poderia ter feito tal promessa de boa-fé. A situação das contas públicas não era assim tão translúcida que justifique uma inversão de 180º na estratégia do governo para a economia. Afinal, tinha sido um governo do PS o responsável pelo descontrolo da despesa pública, Sócrates não precisava da ajuda de Constâncio para conhecer uma realidade evidente, o relatório do governador do Banco de Portugal não passou de uma farsa destinada a permitir que Sócrates desse o dito por não dito.

Se as coisas tivessem corrido bem na economia ninguém se teria lembrado desta promessa, mas não é isso que está a suceder, cada vez que são divulgadas estatísticas de emprego somos confrontado com uma realidade cada vez mais dura, já nem as cambalhotas estatísticas do Instituto do Emprego disfarçam a realidade.

É evidente que o governo não pode ser responsabilizado por uma realidade que o ultrapassa, que nada pode fazer para manter empresas que não são competitivas, nem mesmo criar falso emprego à custa da despesa pública. Mas isso não significa que não possa fazer melhor do que aquilo que fez.

Veja-se, por exemplo, o que sucede no domínio das novas tecnologias, tão queridas do primeiro-ministro. O governo promove o e-government, distribui computadores, generaliza o recurso à internet nas escolas, conseguindo níveis elevados de penetração da Internet. Mas não consegue criar um emprego neste sector, os únicos ganhadores são as empresas de telecomunicações que agradecem o precioso empurrão a um mercado oligopolista, onde os preços são altos e a qualidade raramente corresponde ao oferecido, com o organismo regulador a fazer apenas figura de corpo presente. O consumo da Internet aumenta exponencialmente enquanto a oferta de conteúdos em português não evolui. Em vez de apostar na produção o governo opta pela solução mais simples e promove o consumo.

Se Sócrates pretendia adoptar políticas que qualquer leigo em economia percebe que são geradoras de emprego não poderia ter feito tal promessa.