segunda-feira, outubro 22, 2007

Os barulhinhos no telemóvel do Procurador-Geral incomodaram muita gente

Parece que as declarações do Procurador-Geral da República apanharam o país e, em particular, os senhores da justiça de surpresa. Vivíamos tranquilos porque a nossa justiça é justa e eficaz, as nossas polícias só nos escutam quando não encontram outro meio de prova, os julgamentos são céleres, as acusações são bem fundamentadas, enfim, veio o Procurador-Geral e estragou tudo.
O Procurador-Geral ouve uns ruídos nos telefones e em vez de pensar que é da rede fica convencido que está a ser escutado? Ainda por cima assume isso com a maior tranquilidade, como se a devassa não o incomodasse? É caso para dizer ao Dr. Pinto Monteiro “bem-vindo à realidade”, é assim que a maioria dos portugueses vive e pensa.

Quando ouço ruídos também já me conformei com a possibilidade de o telefone estar sob escuta, há muito que, como muitos portugueses, considero que as conversas telefónicas têm menos intimidade do que discursar no Speakers Corner do Hyde Park. Porque será que a maioria dos portugueses tem a sensação de estar a ser escutado quando fala ao telefone, ao ponto de uma boa parte ter mudado de hábitos?

Ficaram ofendidos porque o Procurador-Geral não confia no telemóvel? Estão esquecidos que no passado recente até as conversas de um Presidente da República fora registadas. O uso e abuso das escutas telefónicas levaram a que muitos cidadãos deste país se sintam a viver num Estado policial. Ainda por cima sentem-se a viver num Estado policial abandalhado pois muitas das escutas chegam às redacções dos jornais ainda antes de ser formulada qualquer acusação.

Basta abrir um jornal para se perceber que as escutas se generalizaram e que há quem as use para condenar os cidadãos na opinião pública muito antes de qualquer julgamento.

Ainda bem que o Procurador-Geral não foi escolhido nos corredores da investigação, assim fica mais irritado com os barulhinos no telemóvel.