Os últimos tempos foram marcados por crescentes sinais de intolerância na sociedade portuguesa, desde o caso da DREN este sinais têm-se vindo a multiplicar, quer do lado do poder, quer dos partidos da oposição.
Os partidos cuja representatividade não lhes permite aceder ao poder dirão que é uma consequência da maioria absoluta, os que sonham regressar ao poder mas que não têm esperança socorrem-se do mesmo argumento. Não me parece que o problema esteja ou esteja apenas numa maioria absoluta, essa é a regra da Europa e não vejo outros países debaterem tal tema. Além disso os sinais de intolerância são visíveis em todos os quadrantes políticos.
A arena política assemelha-se cada vez mais ao que assistimos no mundo do futebol, os líderes políticos estão a imitar os dirigentes desportivos, as militâncias partidárias estão a imitar as claques dos clubes. É evidente que não vemos Jerónimo de Sousa a acusar Sócrates de fascista, mas é isso que todos os militantes estão a chamar a Sócrates. Pedro Namora não diz que o PS é o partido dos pedófilos, mas é isso que muitos militantes do PCP e do PSD andam a dizer. Os responsáveis limitam-se a meia insinuação, as suas claques dizem o resto.
Do lado do poder também não faltam sinais de intolerância, tal como sucede com os líderes da oposição Sócrates não tem que dizer saneiem para que a directora da DREN decida sanear. Basta olhar com desprezo para a oposição de cima da maioria absoluta para que a claque do PS decida imitar os Super Dragões. Não admira que chefes da polícia ávidos de autoridade também vejam nos tiques autoritários de Sócrates um sinal de incentivo a pequenos abusos.
A insinuar que Sócrates é fascista o PCP optou por uma estratégia de confronto puro e duro. Ao escolher a dupla Menezes e Santana para a liderança do PSD este partido optou igualmente por uma estratégia idêntica, sendo evidentes os sinais de que as claques deste partido se estão a encostar aos argumentos das claques do PCP. A questão está em saber se esta mudança da oposição consegue resultados ou se acabará por dar uma nova maioria absoluta a Sócrates.
Os portugueses querem resultados nas políticas governamentais ou projectos políticos alternativos, querem que os governos sejam democráticos e que as oposições respeitem a democracia. E se Sócrates tem tiques autoritários a verdade é que uma parte da oposição está a recorrer a métodos pouco próprios numa democracia, a insinuação, a difamação, a falsa acusação estão a torna-se a norma.
O resultado só poderá ser um, a abstenção. Só que nas legislativas não são as abstenções que decidem, são os votos expressos, por maior que seja a abstenção nenhum deputado ficará por eleger. Resta, portanto, saber quem ganha com a abstenção.
Corremos um sério risco de em vez de vermos os partidos a tentar conquistar eleitores, tudo fazerem para desmobilizar os eleitores dos outros partidos. Pior do que uma maioria absoluta será uma maioria absoluta sem representatividade social ou uma maioria relativa resultante de umas eleições sem votos.