segunda-feira, outubro 01, 2007

PSD, a vitória de Cavaco Silva


Cavaco Silva nunca foi do PSD, foi primeiro-ministro durante uma década mas o partido não passou de um projecto pessoal para o qual precisou de um partido. Quando se candidatou a Presidente da República pela primeira vez o partido deixou de lhe ser útil.

Com o populismo a dominar o PSD, seja o populismo intelectualizado de Marcelo, o tal que para ganhar votos numas autárquicas de Lisboa mergulhou junto com os “submarinos orgânicos” do Tejo, o populismo urbano de Santana Lopes ou o populismo ruralista de Luís Filipe Menezes, Cavaco deixou de se identificar com o seu partido. Há muito que o cavaquismo deixou de ser uma corrente do PSD. Os chamados cavaquistas deixaram de ter qualquer intervenção no interior do partido, vão para onde Cavaco Silva for e enquanto as pernas aguentam, uma boa parte deles ou se retirou da política ou acomodou-se no sector privado.

O grande objectivo pessoal de Cavaco Silva é ficar na história da democracia portuguesa, de preferência num plano superior ao de Mário Soares, o fantasma que o atormenta desde o primeiro dia em que chegou ao poder. Para ocupar um lugar na história ao lado de Mário Soares precisa de fazer uma boa presidência e só há bons presidentes se houverem bons primeiros-ministros.

Cada vez mais próximo de Sócrates e do PS, certamente mais próximos destes do que de personalidades como Santana Lopes, Menezes o mesmo Durão Barroso, Cavaco Silva sentia algumas dificuldades em “trair” o partido que o projectou enquanto na sua liderança estivesse um Marques Mendes que desde a primeira hora foi um dos seus mais fieis apoiantes. Apostando em Sócrates para as próximas legislativas restava a Cavaco manter Marques Mendes com pequenos balões de oxigénio, um pacto para a justiça hoje, um veto uns dias depois.

Com os cavaquistas derrotados no PSD, derrota que eles procuraram ao demitir-se de intervir nas directas, Cavaco tem a porta aberta para o seu projecto pessoal, agora nada o impede de se assumir como social-democrata e aproximar-se do partido que desde sempre foi o parceiro português da social-democracia europeia. Cavaco Silva pode agora conquistar o eleitorado que sempre desconfiou dele, limitando a sua dimensão enquanto personagem da história recente de Portugal.

Com a vitória de Menezes está aberto o caminho para a vitória de Cavaco Silva nas próximas presidenciais sem que essa vitória dependa do apoio do PSD. Será muito mais natural o apoio do PS a uma recandidatura de Cavaco Silva do que o foi o apoio do PSD a Mário Soares quando este se recandidatou. Cavaco poderá ser o que mais deseja, o presidente de todos os portugueses durante um longo período de estabilidade política e de progresso, para isso conta com os votos do PSD e o governo do PS.

Se Sócrates desejou a derrota de Alegre e a vitória de Cavaco Silva, é a vez deste retribuir e desejar a vitória de Sócrates e a derrota de Luís Filipe Menezes. Cavaco derrotou o populismo à esquerda, caberá a Sócrates acabar como o sonho do populismo da direita. Agora nada obsta a que a união de facto entre Sócrates e Cavaco Silva passe ao papel, a cerimónia está agendada para as próximas eleições presidenciais quando Sócrates puder assumir sem complexos que Cavaco é e sempre foi o Presidente da República que desejou. O espaço da social-democracia fica liberto de empecilhos populistas, Sócrates é o primeiro-ministro e Cavaco Silva o seu presidente.