Começa a ser irritante ouvir os nossos políticos a verterem lágrimas de crocodilo por causa dos números supostamente elevados da abstenção quando, na verdade, estes números são extremamente baixos face ao que poderia e seria lógico suceder. O cinismo é tanto que alguns políticos até se mostram pesarosos porque os portugueses não entendem a importância do parlamento europeu.
Depois de Seguro ter feito à pressa um programa para as legislativas e o tivesse apresentado de forma irresponsável e oportunista a meio da campanha das europeias o mais lógico é que muitos eleitores optassem pela abstenção. Se um líder partidário dá tanta importância ao parlamento europeu que aproveita a ocasião para propor a discussão da redução do IVA sobre as bicas não faz qualquer sentido votar nas europeias.
Mas ser recuarmos no tempo até à ocasião em foram escolhidas as listas de candidatos chegaremos à conclusão de que a preparação dos candidatos para defenderem os interesses nacionais ou europeus nem foi preocupação, aliás, alguns devem falar tão bem francês como o Jesus fala português e o seu conhecimento de cultura europeu faz lembrar os conhecimentos de pintura do treinador do Benfica.
Sejamos honestos, aquilo a que se assistiu foi a uma luta por tachos bem remunerados, os lugares no parlamento europeu servem para recompensar amigos e o resto é conversa. Não são a dúzia de deputados europeus que vai mudar o que quer que seja na Europa e a maioria deles está feliz porque a sua condição económica vai ter uma melhoria sensível. Nalguns casos, como sucede com Marinho Pinto até arranjaram um bom emprego pois estavam no desemprego.
Pedir a cidadãos que ganham um salário mínimo e que andam a ser gozados na concertação social com o eterno debate em torno de uma aumento miserável de 6 cêntimos por hora para escolherem quais os políticos que vão ganhar mais de dez mil euros por mês é gozar com a miséria. Se todos os portugueses se tivessem apercebido desta realidade miserável a abstenção não se ficava pelos 65%, ultrapassaria os 95%.