Independentemente do que se possa opinar sobre as opções de política económica ou sobre as causas da crise que o país atravessa, um dos aspectos mais graves da época que vivemos é a total falta de seriedade dos políticos. Essa desonestidade intelectual é evidente quer no discurso político, quer nas propostas que apresentam. A falta de seriedade é tão generalizada que já nem se discutem as medidas com consequências mais graves para o país, são adoptadas sem qualquer reflexão e apresentadas como factos consumados.
Ainda ontem Paulo Portas deu-nos um bom exemplo do que é a falta de seriedade, a reforma do Estado começou por um projecto feito às três pancadas que os Salassie do FMI assinou por baixo. Era um documento feito por incompetentes, cheio de erros técnicos mas mesmo assim o FMI aceitou dar-lhe a chancela. Depois foi o que se viu, foi esquecida e regressou sempre que foi necessário foguetório, Portas ressuscitou da demissão irreversível com o guião e agora que se inicia a campanha eleitoral permanente renasceu com o projecto para dar resposta ao segundo memorando de entendimento com o FMI.
Infelizmente, a falta de seriedade não é um exclusivo do governo, os jotas do PS também não a conseguem esconder sempre que são confrontados com a necessidade de dizer o que pensam. Veja-se a posição de Seguro em relação aos impostos, foi sempre contra os aumentos dos impostos, ainda esta semana ficou muito indignado com o acréscimo de 0,25% na taxa do IVA, mas quando questionado se vai descer os impostos não se compromete. Já com os vencimentos dos funcionários públicos fez o mesmo, pediu a inconstitucionalidade dos cortes, mas na hora de dizer se os vai repor fica engasgado.
No lado do PCP a falta de seriedade é condimentada com o cinismo dos que pensam que o paraíso futuro justifica a promoção do inferno actual. Quando o PCP tudo fez para derrubar o governo do PS sabia muito bem quais seriam as consequências, mas Jerónimo de Sousa e os seus não hesitaram em aliar-se à pior das direitas, a Passos e a Portas, para derrubar José Sócrates. É evidente que Jerónimo de Sousa sabiamuito bem o que aí vinha, mas do seu cardápio ideológico fazem parte duas teses que lhe são queridas, o grande inimigo do comunismo são as correntes social-democratas e as crises dão lugar às grandes mudanças que defende. É evidente que o discurso é sempre o da defesa dos interesses dos trabalhadores, bandeira que é empunhado por lutadores como o Mário Nogueira, lutou contra a avaliação para que muitos do que o apoiarem sejam agora avaliados no desemprego.
Mais finórios são os herdeiros de Estaline e Trotsky, deixaram de assumir as teses mais empoeiradas e são mais subtis na tentativa de destruir o PS. Basta ouvir o seu grande ideólogo Louçã para se perceber que há sempre uma grande preocupação em unir a esquerda ao mesmo tempo que se procura roubar votos e militantes ao PS. Todas as manobras do BE nos últimos anos tiveram um único objectivo, crescer eleitoralmente à custa do PS, com tentativas sistemáticas de promover cisões, algo que ficou evidente na campanha presidencial de Manuel Alegre.
E enquanto esta gente governa ou faz oposição para receberem comissões, assegurar tachos dourados nos parlamentos ou no aparelho de Estado o país afunda-se e o povo definha, é lançado na miséria e condenado à emigração.