O memorando entre Portugal e a Troika, o tal que o PSD exigiu que fosse traduzido e tornado público, previa o que era normal, que Portugal sairia passado os três anos, isso no pressuposto de que a dívida não cresceria tanto, que o desemprego tivesse sido contido em níveis razoáveis e que o crescimento fosse retomado. Mas a experiência ideológica de Passos Coelho correu mal e a única mete alcançada foi a do défice, graças a um aumento brutal de impostos, aos cortes nas pensões e à destruição da vida dos funcionários públicos.
O memorando não previa nem saídas cautelares nem cartas de intenções, nem mesmo a necessidade de desrespeitar a Constituição. Agora festeja-se uma saída limpa e enquanto faz as malas para mais um passeio à custa dos contribuintes Cavaco Silva usa o seu Facebook para lançar provocações contra os que ousaram recear um segundo resgate, quando foi precisamente ele que lançou essa hipótese para a agenda política.
Estamos, portanto, perante uma saída tão limpa que ninguém sabe como vai acabar 2014 e muito menos o que será 2015 ou mesmo os anos seguintes. Ninguém sabe como vai acabar 2014 porque Cavaco Silva teve a arte e o engenho de adiar a intervenção do Tribunal Constitucional, de forma a que uma eventual declaração de inconstitucionalidade de medidas orçamentais ocorresse apenas depois da encenação da saída limpa. A partir de agora iremos assistir às habituais pressões sobre o Tribunal Constitucional e não faltarão os que irão dizer que uma eventual declaração de inconstitucionalidade antes das eleições europeias é uma forma de activismo político daquele tribunal.
Não deixa de ser ridícula a forma como o governo tenta a todo o custo esconder dos portugueses o segundo memorando de entendimento com o FMI a que eufemisticamente designa por carta de intenções e que a ministra das Finanças desvaloriza sugerindo que no memorando nada consta. Se assim é porque razão o governo não divulga este memorando a tempo de obter ganhos eleitorais nas eleições europeias?
Ficou evidente que a Troika com Durão Barroso à frente fez muito mais do que assegurar-se que Portugal cumpria com o acordado no primeiro memorando, a Troika colaborou activamente com a agenda política de Passos Coelho, com a sua tentativa manhosa de impor ao país uma revisão constitucional de facto. Esse apoio político da Troika foi evidente na forma como aceitou sucessivos agravamentos das medidas do memorando ou nas conferências de imprensa de um pitbull de Bruxelas de nome Simon, que cada vez que o governo ia ainda mais além da troika dava uma conferência de imprensa fazendo chantagem sobre os portugueses.
Portugal não só não saiu de onde quer que fosse como não há nada de limpo em tudo isto, na melhor das hipóteses Passos Coelho, Cavaco Silva e Durão Barroso, a troika de presidentes do PSD que nos governam, meteram fraldas ao país, Portugal é um bebé que vai passear de fraldas para logo de seguida ter de voltar a casa para a próxima mamada.
A saída limpa com que alguns imbecis tentam iludir os portugueses não passa de mais uma fraude, mais uma manobra suja para esconder a assinatura de um segundo memorando que deixa de ser de entendimento para passar a ser um memorando de obediência em relação ao FMI, onde o homem das questões orçamentais é precisamente Vítor Gaspar.