Desta vez Cavaco percebeu que “foi longe demais” e sente necessidade de justificar as suas despesas faraónicas em viagens dignas de um imperador, para além do habitual mordomo e da fadista omnipresente nas encenações presidenciais Kátia Guerreiro , vão com ele cerca de cem empresários e mais uns quantos jornalistas amigos da sua imagem. Por este andar Portugal ainda vai ter de pedir a Obama que nos empreste o Air Force One de reserva porque os aviões fretados à TAP começam a ser acanhados.
Nunca se viu um presidente deste país justificar uma viagem presidencial com o argumento miserável de que ia à procura de emprego para os portugueses, Cavaco já tinha transformado a presidência num circo itinerante com os seus roteiros da treta, agora transformou-a num centro de emprego itinerante, um pouco como as antigas bibliotecas itinerantes da Gulbenkian, mas à escala internacional.
Mas a verdade é que em poucas horas e mesmo descontando os fado e os beberetes Cavaco Silva já pode apresentar sucessos, já está em condições de anunciar a possibilidade de criação de uma ligação aérea entre a China e Lisboa onde viajarão os criadores de emprego, os mafiosos em busca de passaportes dourados, os turistas endinheirados e ainda os adeptos do Sporting que se deslocam à capital portuguesa só para rezar em Alvalade. Só é pena que a tal linha não venha a ser assegurada pela TAP pois exige recursos financeiros, a nossa companhia aérea não só é mixuruca demais para tão grandes voos como sendo rentável o negócio não se enquadra na sua tradição.
Mas mesmo que seja criada a linha aérea por uma companhia chinesa ainda vamos ver resmas de chineses a dobrar todos os dias o Cabo da Boa Esperança pois Cavaco Silva sabe que há 450.000 chineses interessados em visitar Portugal, o que feitas as contas dá qualquer coisa como 1232 chineses por dia, sem contar com as casa decimais que equivale a um chinês sem uma perna. Convenhamos que com tanto chinês a querer visitar-nos um avião diário não chega e o melhor é convidar a Conard a expandir o número dos seus paquetes com os nomes das rainhas, construindo um por cada rei inglês, pondo-os de seguida ao serviço da ponte marítima entre a China e Lisboa.
Esgotado os feitos heroicos e questionado sobre os negócios Cavaco responde sobre a necessidade de reforçar o papel do AICEP. Finalmente se percebeu o porquês de tão grande investimento, o presidente, o mordomo, a Kátia Guerreiro, a dona Maria, os jornalistas e mais um ou outro pendura foram a Pequim porque é importante reforçar o papel do AICEP cuja sede é em Lisboa!
O incrível de tudo isto é que o país parece engolir toda esta prosápia presidencial, num tempo em que tantos sofrem e com um governo cuja primeira medida até foi cortar nas viagens dos membros do governo, que nas viagens dentro da Europa passaram a viajar em turística, critério que nunca foi adoptado pela família real do Palácio de Belém, com palácio de verão na Quinta da Coelha.
Mas o facto de Cavaco Silva sentir a necessidade de justificar com resultados imaginários os seus excessos de despesa já é um sinal de que desta vez alguém sentiu que estava a abusar. E abusou mesmo, teria saído mais barato ao país se tivesse ido a África matar um elefante, como fez o rei de Espanha, do que levar uma embaixada medieval a Pequim.