segunda-feira, maio 12, 2014

Macaco é o teu pai!

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O concurso para o cargo de director-geral da AT está desencadeando comentários que nalguns caos ofendem os candidatos ou potenciais candidatos ao cargo. É o caso do Expresso deste sábado que comenta a falta de uma chuva de estrelas candidatas ao cargo  concluindo que “quando se pagam amendoins, só se conseguem macacos”. Se o Expresso fosse rigoroso perceberia que o problema não está numa questão de dieta alimentar pois o que não faltam na liderança de grandes empresas são macacos. 
  
Este tipo de comentários ofende a dignidade dos concorrentes, alguns deles com competência mais do que suficiente para desempenharem cargos de administração nas empresas do grupo Impresa de Pinto Balsemão, que pelos seus indicadores financeiros também deve ter macacos suficientes para um espaço próprio no Zoo de Lisboa. Além disso evidencia que os jornalistas do Expresso não perceberam que o maior problema de um cargo como o de director-geral da AT nem sequer é o dos amendoins.
  
Na mesma edição do jornal é publicado um artigo da Dra. Manuela Ferreira Leite em que centra o problema da remuneração dos directores-gerais. Sucede que Manuela Ferreira Leite é o político que mais diretores-gerais dos Impostos e das Alfândegas escolheu e nunca se queixou de grandes dificuldades nas escolhas, talvez porque à excepção do Dr. Paulo macedo as suas escolhas nunca foram feitas no mercado dos gestores competentes, mas sim na bolsa de desempregados e oportunistas do PSD. Pelo menos duas das suas escolhas, um tal Rodrigues Porto e o divertido Mestre Armindo, foram desastrosas para o erário público.
  
A AT é uma organização com dimensões para ser equiparável às maiores empresas portuguesas, pelos recursos humanos, pela organização, pela complexidade técnica e pela sensibilidade da sua acção é uma das instituições mais difíceis de gerir. Imagine-se o que seria para o país se um director-geral da AT tomasse decisões equivalentes aos investimentos feitos pelo Fernando Ulrich na dívida grega, ou que tivesse desenvolvido acções similares aos negócios off-shore conduzidos pelo senhor Costa, hoje governador do Banco de Portugal e que na ocasião eram o homem dos negócios estrangeiros do BCP.  Como se vê o facto de serem pagos milhões em vez de alcagoitas não garante nem competência, nem boas decisões.
  
Mesmo que fosse contratado um mago da gestão o que poderia ele fazer? Não só não poderia fazer quase nada, como  corria um sério risco de um dia para o outro ser corrido com o carimbo de incompetente. Os directores-gerais há muito que foram transformados em meros executores de ordens de secretários de Estado. Se a competência dos directores-gerais é medida em alcagoitas, porque não medir a competência dos secretários de Estado pela mesma unidade de medida. No caso particular da AT até seria bem fácil pois há um secretário de Estado para uma única direcção-geral.
  
Este é um falso debate pois o director-geral da AT, que na opinião do Expresso é um macaco que se alimenta a alcagoitas, tem mais competências de gestão e habilitações académicas do que qualquer quadro do grupo Impresa ou qualquer dirigente do Estado nomeado por Manuela Ferreira Leite em toda a sua carreira política. E é bem provável que entre os candidatos admitidos no concurso haja quem numa empresa de consultoria financeira pudesse ganhar mais dos que os competentes gestores do mesmo grupo.
  
Este tipo de linguagem apenas reflecte a opinião de muita gente acerca dos funcionários públicos e dos seus quadros, como se algumas das funções de maior complexidade técnica fossem exercidas por macacos alimentados a alcagoitas. Estes liberais da treta acham que o país é um imenso bordel onde tudo é uma questão de preço.
 
Só espero que no dia em que o Dr. Balsemão tiver um AVC e for socorrido por uma ambulância do 112 e tratado na urgência do SNS não se esqueça de levar um saco de alcagoitas, o mais certo é que aqueles que lhe poderão salvar a vida não passem de primatas alimentados a alcagoitas pois ganham muito menos do que o DG da AT. Ou será que nessa hora o Dr. Balsemão fará apelo ao sentido de serviço público, à dignidade pessoal e ao brio profissional daqueles que agora reduz a macacos?