Se aceita que uma política de austeridade escolha grupos sociais ou profissionais por questões meramente eleitorais, concentrando nesses grupos as medidas mais brutais então faz muito bem em abster-se nas próximas eleições.
Se aceita que centenas de milhares de profissionais indispensáveis ao país e com elevados níveis de qualificação sejam tratados como parasitas da sociedade e mera despesa pública e por isso os responsáveis pela crise, faz muito bem em abster-se.
Se aceita tranquilamente que o Sistema Nacional de Saúde, uma dos sectores mais desenvolvidos e modernos da sociedade portuguesa seja empobrecido e desqualificado, por forma a que se especialize no tratamento dos mais pobres enquanto os mais ricos podem aceder aos sistemas privados de saúde, faz muito bem em abster-se.
Se aceita que os programas eleitorais sejam mentiras deliberadas, que os programas de governo sirvam apenas para debates parlamentares da treta e que a política seja decidida em função de interesses particulares de membros do governo, faz muito bem em abster-se.
Se aceita que um governo lhe minta sistematicamente, que lhe apresente falsos estudos para fundamentar as suas decisões e que o engane sistematicamente com truques de propaganda dignos de um Goebels, faz muito bem em abster-se.
Se aceita que o país seja reduzido ao modelo do século XIX ou mesmo do século XVIII, onde um governo decide de forma arbitrária, sem respeito por qualquer ordem constitucional e com um presidente quem nem corta fitas pois tudo foi suspenso, faz muito bem em abster-se.
Se aceita que o governo liberalize a legislação laboral com o argumento da criação de emprego que depois não ocorre e concorda que seja escravizado sem direito a qualquer debate ou contestação, faz muito bem em abster-se.
Se aceita que um qualquer fugitivo governo o seu país atrás de uma troika que dirige mas pela qual não dá a cara e que lhe seja imposto tudo aquilo com que não concorda porque um qualquer imbecil decidiu ser ainda mais troikista do que a troika, faz muito bem em abster-se.
Se aceita que os seus pais depois de terem encontrado um país subdesenvolvido, paupérrimo,. Sem qualquer segurança social ou sistema de saúde, sejam tratados como parasitas da sociedade e condenados à miséria depois de lhe terem deixado um país com infraestruturas modernas, com um dos melhores sistemas de saúde, com escolas para todos e com uma democracia, faz muito bem em abster-se.
Se aceita um empobrecimento forçado para tornar os ricos mais ricos à custa do lucro fácil de uma economia capaz de concorrer com a dos países mais miseráveis, faz muito bem em abster-se.
Se aceita que os seus filhos e netos depois de quase duas décadas de estudos em escolas e universidades que você pagou sejam forçados a emigrarem para países que nada investiram neles, passando a financiar os seus estados sociais e deixando Portugal na penúria e sem futuro, faz muito bem em abster-se.
Poderia enumerar dezenas de bons motivos para se abster e dormir com a consciência tranquila, nem faltarão mesmo os que por gratidão ou por interesse terão motivos para votar a favor deste estado de coisas. Não faltarão boys, banqueiros e lambe-botas que vão votar a favor dos seus interesses e contra o país.
Mas se é contra o estado a que chegou o Estado deste país não deixe de fazer o seu “golpe de Estado”, se está contra tudo isto não é ficando em casa que muda o que quer que seja e muito menos aquilo de que discorda. Muda-se votando contra, contra o que foi feito, contra o estado a que isto chegou, contra os que governaram.
No dia 22 de Novembro do ano passado Paulo Portas, o irreversível ministro deste governo, criticava Mário Soares acusando-se de apelar à violência, dizia ele que "em democracia e em liberdade, a forma adequada de expressar uma opinião é o voto". Se até aqui esteve calado porque para esta gente só se pode abrir o bico no dia das eleições, então tem aqui a sua oportunidade de dar o seu grito, de lançar a sua pequena bomba sobre tudo isto, vote contar eles.