quinta-feira, junho 05, 2008

Assalto ao Orçamento


Apesar de uma crise internacional de evolução imprevisível, de a economia estar longe dos níveis de competitividade que nos possam trazer novos dias, de a crise financeira do Estado não ter sido superada, já são muitos os que acharam a hora de assaltar o Orçamento. Bastou verificar as exigências do Pacto de Estabilidade para se ter criado a ilusão da fartura, pouco importam as consequências, que o país seja condenado a mais dez anos de atraso, a suposta “folga” já dá para se ter a ilusão de fartura.

Mas de que “folga” estamos a falar? De uma “folga” que aumenta a dívida do Estado, a ser paga por aqueles que desde a nascença não beneficiaram da “fartura” resultante da gestão oportunista do Estado. Uma “folga” que todos os anos tem aumentado essa dívida em mais de 3%. São os que levaram o ensino que temos, os que não terão pensões abusivas, que terão de pagar as auto-estradas, o ensino, a saúde e tudo mais, são os que vão herdar um país empobrecido que terão de pagar essa factura.

Mas isso pouco importa aos especialista na boa nova, o que importa é que já podem distribuir a ilusão de fartura pelos mais fortes. Os detentores da marca de “esquerda” já podem exigir uma política de esquerda (por onde andava o novo líder da esquerda aquando dos acordos com o FMI?), Paulo Portas já pode ir para Badajoz exigir descidas do ISP e até apresenta moções de censura motivadas pelas cotações do Brent, Ferreira Leite até se converteu à preocupação com os pobrezinhos, quem tem meios para boicotar portos e cidades já os usam para fazer chantagem sobre o país e Sócrates já imaginava um fim de legislatura em ambiente de festa. Agora que há ilusão de fartura parece que já espaço para políticas de esquerda, enquanto a direita já está cheia de ideias novas.

O país continua pobre, com a dívida a aumentar, com um défice comercial crescente, com baixa competitividade, mas isso pouco importa, comportamo-nos como viciados no cartão VISA e apressamo-nos a gastar o mais depressa possível o aumento do plafond, mesmo sem sabermos vai ou como vai pagar. Mas como a fartura não é muita cada um usa o que tem para levar o mais depressa possível a sua parte sabendo que não dá para todos.

Todos sabem que estão perante uma mentira mas isso não interessa, o importante é que sejam os primeiros a beneficiar da “folga” porque esta não dá para todos. O país envolve-se num imenso jogo em que ganham os que mais depressa assaltarem o Orçamento, sabem que o rombo vai ter que ser pago, mas o prejuízo vai ter que ser suportado por todos, principalmente pelos que sempre estiveram arredados deste jogo.