Pela actuação dos armadores de pesca e dos camionistas já percebemos como os empresários portugueses tencionam resolver a crise dos preços dos combustíveis, recorrem ao lockout para fazer chantagem sobre o país com o objectivo de serem os contribuintes a financiar-lhes a actividade. Se os armadores se queixam, com alguma razão, dos preços a que o peixe é vendido nas lotas, os camionistas conseguem unir-se para chantagear os portugueses mas são incapazes de repercutir o preço dos combustíveis nos preços que praticam, alguém acredita?
Os partidos, muito preocupados com as próximas legislativas, comportam-se de forma irresponsável, o PS tenta conciliar gregos e troianos para salvar a maioria absoluta, a oposição aposta na desestabilização para conseguir votos, o PCP até emprestou os pescadores para servirem de tropa de choques de uma das piores classes empresariais que este país conhece e faz silêncio perante o lockout dos camionistas.
Enquanto muitos políticos fazem figas para que este movimento de assalto ao orçamento continue, corremos um sério risco de ver os impostos virem a ser utilizados para financiar a camionagem ou para que os pagadores mal paguem contribuições sociais.
Até agora foram raros os políticos que tiveram a coragem de fazer frente a este assalto, as excepções forma o governo e Manuela Ferreira Leite, alguns nem perdem a oportunidade de irem para Badajoz para justificar a descida do ISP, mas esquecem-se, por exemplo, de perguntar quanto é que por lá se paga aos pescadores, aos motoristas, ou quais as taxas das contribuições sociais.
A verdade é que a crise petrolífera veio para ficar, será superada quando os preços estabilizarem e não quando desceram, o que é muito pouco provável que venha a suceder. Este será um cenário frequente nas próximas décadas, a procura dos muitos milhões de habitantes deste mundo que têm estado arredados do desenvolvimento será crescente, não sendo previsível que a oferta a acompanhe.
A solução da crise energética não é fiscal, passa pela utilização eficiente da energia e pela substituição das fontes de abastecimento. Qualquer medida que vise iludir o custo económico dos combustíveis, estimulando a inércia e permitindo às empresas que adiem a realidade será um erro a pagar no futuro. As crises energéticas do passado ensinaram-nos que foram os países que não tentaram iludir os custos da energia os que melhor se adaptaram à nova realidade.