A partir de hoje e se tudo correr bem à nossa selecção os problemas dos portugueses ficam temporariamente resolvidos, Sócrates pode respirar, Manuela Ferreira Leite pode ir cuidar do neto, Jerónimo de Sousa pode ir comer uma sardinhada acompanhada da pinga de tintol, Paulo Portas pode interromper um pouco o carrossel entre as traineiras e as bombas de gasolina de Badajoz, Louça pode aproveitar umas horas para o bronze e nós, vulgares cidadãos, podemos assistir a uns quantos jogos, esperemos que muitos, sem gente a tentar deprimir-nos.
Acabou-se a pobreza endémica, o gasóleo já está a preços acessíveis para irmos buzinar para o Marquês, a sardinha está de regresso aos pratos, voltamos, enfim, à normalidade.
Imagino que Sócrates deseja que a selecção chegue à final, o que significa que do Euro iríamos directamente para a praia, não faltarão também os que desejem que se fique pela fase de grupos porque o ambiente de depressão colectiva sempre dá mais votos do que o pódio de Viena.
Para já temos os problemas resolvidos, adeus aos preços altos, à gasolina pelas horas da morte, aos políticos enjoativos, deprimentes e sem graça, que viva Portugal, que os nossos heróis nos façam campeões da Europa nalguma coisa.
Ao menos para conseguirmos uma taça de campeões da Europa não precisamos da cunha de Durão Barroso, de aumentar o défice público, de discutir moções de censura, nem de respeitar as regras de higiene da ASAE para bebermos colectivamente uma garrafa de espumante.