Não sou defensor de modelos políticos optimizados por ditaduras e muito menos por ditaduras justificadas por valores ideológicos de um mundo que já não existe, acredito mais na diversidade da democracia do que num falso unanimismo no bem comum ou na necessidade de ordem. Não admira que se falasse mais em nação na ditadura do que em democracia, na ditadura a nação era um excelente argumento para calar o individuo em nome de um colectivo fictício.
A essa nação correspondia um Estado paternalista, um estado que estava acima dos cidadãos porque chamava a si a função corporativa de cuidar desses mesmos cidadãos. A democracia desmontou os fundamentos ideológicos da ditadura mas herdou e promoveu o Estado paternalista, transformou-o num Estado ainda mais paternalista, um Estado que assegurava aos cidadão que não teriam que se preocupar com a educação, a saúde e ao velhice, um Estado que criava emprego e que deveria assumir colectivamente os custos de todas as crises.
Com a democracia o Estado paternalista que assegurava a sua autoridade pela ditadura deu lugar a um Estado ainda mais paternalista que não receia os cidadãos porque estes tornam-se dele dependentes. O Estado é o colectivo que nos protege, a nação é um sentimento colectivo que se manifesta em momentos como o futebol, em que o esforço gratuito não tem custos, em que o indivíduo nada tem de dar em troca ou de ceder nos eus princípios ideológicos. Exigimos que o Ronaldo coma relva para sermos campeões europeus, mas na hora de justificar a nossa pobreza dizemos que a culpa é dos Estado.
No momento de se assumir um esforço colectivos estamos de acordo mas deixamos de existir como nação, é o Estado que deve fazer tudo.
Se a ditadura nos condenou ao atraso, a democracia ainda não conseguiu promover o país que desejamos ser. A nação em ditadura era a negação do indivíduo, o indivíduo em democracia torna-se na negação da nação, em ditadura a criatividade individual era apagada, na democracia os interesses individuais eliminam o espírito colectivo.
Neste dia de Portugal, que também é de Camões e das Comunidades Portuguesas, vamos mais uma vez fazer de conta que somos uma nação, uma nação que não deixamos existir, de que exigimos tudo e a que damos muito pouco.
Vamos evocar o que tiveram a coragem que não temos, os que forma capazes de fazer o que não fazemos, os que evidenciaram o empreendedorismo que não possuímos, os que mostraram a ambição que nos falta. Vamos celebrar a nação que não somos capazes de ser.