quinta-feira, junho 12, 2008

A revolta dos patos-bravos


Não deixa de ser curioso que sejam dois grupos empresariais, que se caracterizam pela tendência para o incumprimento de todas as regras, que não hesita em lançar o país em crise se daí resultarem proveitos. Primeiro foram os armadores, se pudessem usavam malhas maiores do que as permitidas, excediam todas as quotas e pescariam em locais proibidos, depois de décadas de saque sem regras queixam de que as poucas sardinhas que pescam são vendidas baratas. Agora são os camionistas que se pudessem transportariam peso a mais, desrespeitariam os horários de trabalho dos motoristas e, se pudessem, tornariam suas as estradas do país.

Talvez por serem manifestações atípicas assistimos a fenómenos curiosos, enquanto o PCP manteve o silêncio os pescadores foram despedidos para ganharem subsídio de desemprego enquanto durasse o lockout, ao mesmo tempo que serviam de carne para canhão nos piquetes dos patrões. O mesmo triste papel tem sido desempenhado pelos motoristas, vemos mesmo alguns a dizerem que estão ali para defender os patrões, os mesmos patrões que não cumprem as regras laborais. Perante isto assistimos ao silêncio cobarde dos que se dizem candidatos a liderar o proletariado. Salvou-se Carvalho da Silva que manteve o silêncio durante o lockout dos armadores, mas percebeu que agora teria de dizer alguma coisa. É vergonhoso como os grandes defensores da “democracia”, dos trabalhadores, dos ideais de Abril e da ditadura do proletariado optem pelo silêncio enquanto os trabalhadores servem de tropa de choque de “empresários” sem escrúpulos, na esperança de obterem alguns votos em resultado da crise económica, numa lógica sinistra de que quanto pior melhor. É a luta de classes à portuguesa, se os trabalhadores servirem de troipa de choque e isso ajudar Manuela Ferreira Leite a chegar a São Bento o senhor Jerónimo de Sousa cala-se.

À direita assistimos ao mesmo oportunismo, CDS e PSD optaram pelo silêncio, Ferreira Leite deve andar a mudar as fraldas ao neto e Paulo Portas, que andava numa excitação desvairada entre Badajoz e Lisboa, deve ter optado por ir a banhos, aproveitando o sol para ter algum bronze, sempre é mais barato e lhe dá melhor ar do que o solarium.