sábado, junho 28, 2008

A luta de classes segundo o PCP

Aquando do lockout dos armadores de pesca o PCP assistiu impávido e sereno ao espectáculo triste dado pelos pescadores a servirem de gang dos armadores, a instabilidade interessava aos superiores interesses e por isso a CGTP nem reparou que os armadores tinham decidido despedir os pescadores para que estes recebessem o subsídio de desemprego.

Quando sucedeu o mesmo com os motoristas das empresas de camionagem o PCP já sentiu a necessidade de lavar a honra do convento e lá mandou o dr. Carvalho da Silva dizer que estes patrões eram uns piratas. O Avante foi um pouco mais longe e lá analisou a questão à luz do “socialismo científico” o que torna incontornável a questão da luta de classes.

Estes são dois bons exemplos do que é a luta de classes à portuguesa, até porque não são propriamente profissões bem remuneradas, que permitiria aos “cientistas” designar os seus profissionais como pequeno-burgueses. A verdade é que vimos gente mal paga, que trabalha muitos mais horas do que as 65 propostas pelo Conselho Europeu vir dar a cara pelos patrões. Mas como o importante era a desestabilização da economia portuguesa os estrategas do PCP esqueceram rapidamente este pecadilho.

Mas estas duas situações evidenciam também a ausência de influência do PCP naqueles que deveria ser o seu espaço social, o operariado e, entre estes, os mais pobres e explorados. Mas não é a isso que assistimos, o PCP está instalado essencialmente na pequena burguesia urbana, os sindicatos que mais dinamizam a CGTP já não são os sindicatos operários, são os sindicatos dos funcionários públicos e os das empresas públicas.

Apesar de toda a instabilidade social, de toda a precaridade e da perda de rendimentos, onde se registraram greves: no ensino, na TAP, nos transportes públicos e um simulacro na Administração Pública. E quais são as classes sociais mais aguerridas, serão os metalomecânicos ou os operários agrícolas? Nem por isso, são os magistrados (dos que melhor ganham no Estado e trabalham o que lhes apetece), os polícias, os empregados da TAP (uma empresa onde muitos portugueses gostariam de trabalhar).

As grandes lutas “operárias” do PCP são para defender os privilégios dos que alimentam a sua máquina partidária, a classe média urbana, magistrados, professores e outros quadros da Administração Pública. Quem conhece o Estado sabe que não são os funcionários auxiliares ou os menos qualificados que militam no PCP, são quadros superiores, alguns até com posições de dirigentes (devidamente contabilizados como cargos de boys quando interessa ao PCP).

A preocupação do PCP com os pobres não passa de uma palavra de ordem, as suas grandes movimentações foram conseguidas à custa da defesa dos interesses da classe média que alimenta o seu aparelho. Mesmo a CGTP defende essencialmente os que estão empregados, em prejuízo dos desempregados que, como se sabe, não são sindicalizados.

O PCP usa e abusa da bandeira da pobreza e da Luta de classes, mas a verdade é que a luta de classes é uma treta e é um dos partidos que está mais longe da pobreza