Esta semana ia sendo perfeita para a direita, perfeita, perfeita teria sido se tivesse terminado com um arraial de porrada em vez dos tradicionais arraiais de Santo António. Os gurus de Manuela Ferreira Leite mantiveram-se em silêncio, não lhes convinha perder os votos dos camionistas, os patos-bravos são uma importante base eleitoral do PSD, não podiam dizer que conheciam os líderes dos piquetes de outros arraiais, nem lhes convinha defender a manutenção do ISP, ficaram à espera de que tudo terminasse em pancadaria. Mas como não terminou dessa forma sentiram-se frustrados, e vieram acusar o governo de falta de autoridade, enfim, nuns dias há autoridade a mais, noutros há autoridade a menos. Enquanto os camionistas faziam piquetes na estrada, Manuela Ferreira Leite, o seu guru Pacheco Pereira e outros fizeram piquetes de silêncio.
No caso de Manuel Ferreira Leite até se compreende o silêncio, a velha senhora nunca teve o dom do ruído, ainda por cima como anda muito atarefada a cuidar do Joãozinho nem pode fazer algazarra, não vá o netinho acordar. A sua dedicação às novas funções de avó é tão grande que o Alberto João nem se arriscou a ir beber umas ponchas à festa do PSD-Madeira, onde no passado foi visita regular. Já imagino a família à volta do dorminhoco do Joãzinho, com todos a dizerem que o dorminhoco do rebento é tal e qual a avó.
Em silêncio também esteve o camarada Jerónimo de Sousa, o último grande líder do proletariado da linhagem de Estaline, que nem aproveitou para dizer que, ao contrário do que sucede na Europa, em Cuba não anda ninguém ao lixo, os 350 cubanos que se alimentavam dessa forma original foram detidos, lembrando os tempos em que Salazar também multava os pobres que por cá andavam descalços. Aguardando pela sessão de pancadaria também optou pelo silêncio enquanto alguns dos trabalhadores portugueses mais explorados andaram a servir de tropa de choque dos patrões, digamos que devido a questões técnicas houve uma breve interrupção na luta de classes, a bem da instabilidade e dos superiores interesses do partido, por cá também a luta de classes se escreve por linhas tortas.
Também por linhas tortas Louça optou por lançar a campanha presidencial a meio do mandato de Cavaco Silva, descobriu que a vaidade de Manuel Alegre faria dele um excelente candidato presidencial. Teve azar, nem o próprio candidato involuntário se deu ao trabalho de comentar a sugestão.