sábado, junho 14, 2008

Maioria de esquerda ou maioria absoluta?


A pouco mais de um ano das legislativas já se percebeu que o resultado das próximas eleições depende mais das perturbações na Bolsa de Nova Iorque do que das manifestações da CGTP, muito representativas mas que mal dariam para eleger o presidente da Câmara Municipal de Sintra.

Ao escolherem Manuela Ferreira Leite os militantes do PSD optaram por atirar a toalha para o tapete, daqui a um ano pouco mais se poderá dizer do PSD para além de que o Joãozinho tem um ano. O PSD desistiu de ser governo, juntou-se ao PCP e ao BE na ambição de impedir uma nova maioria absoluta a Sócrates, mais do que governar passou a ter como objectivo impedir que se governe.

Daqui até às eleições assistiremos a algumas manifestações da CGTP, mas a tácticas neo-fascistas a que temos assistido nos últimos tempos vão desaparecer, deixarão de haver manifestações convocadas por sms para apupar Sócrates, a CGTP deixará de fazer esperas ao primeiro-ministro, Jerónimo de Sousa sairá da penumbra da sala de operações da Soeiro Pereira Gomes para reassumir o papel do avô dos pudins Boca Doce.

Portanto, a alternativa é entre uma maioria absoluta de Sócrates e uma “maioria de esquerda” tão apreciada pelo PCP. No primeiro cenário o PSD entrará em crise e o PCP regressará à rotina, talvez com novas estratégias copiadas do Goebels, como a calúnia e as manifestações anónimas. Se vingar a “maioria de esquerda” o PS volta a ser um partido de esquerda e o PCP exigirá um governo assente na maioria de esquerda, até que Sócrates diga não deixará de ser apupado e apelidado de fascista.

Depois volta tudo à mesma, quando as sondagens derem mais uns votos ao PCP, o PSD apresenta uma moção de censura que será penosamente votada por Jerónimo de Sousa, devolvendo-se o poder à direita. A normalidade política é retomada, a direita governa e o PCP lidera os trabalhadores contra as políticas de direita, voltará a ser manso como o foi durante o governo de Durão Barroso e até pode ser que a CGTP chegue a acordo com os patrões, como no tempo de Cavaco Silva.

Bem, mas desta vez o PCP tem um “pequeno” problema chamado Bloco de Esquerda, antes de se armar em “Congregação para a Defesa da Fé” da esquerda, tem que disputa a liderança da extrema esquerda com o Bloco, uma disputa que o tem levado a extremar posições contar o governo do PS, se o Bloco dá cabo do milho, o PCP veste os militantes de anónimos, e até de cidadãos comuns que votaram no PS, e mandam-nos para a porta do PS chamar fascista a Sócrates.

Resta a hipótese remota de a direita ter uma maioria absoluta, o que do ponto de vista do PCP seria uma vantagem, poupavam-se dois anos de luta contra o PS. Afinal, a maioria de esquerda não passa de uma antecâmara da maioria absoluta da direita, desta vez com Ferreira Leite em primeira-ministra e, quem sabe, com Paulo Portas em vice-primeiro-ministro. É esse o grande objectivo de Jerónimo de Sousa, a direita chega ao poder mas derrota o velho inimigo dos comunistas, uma luta que se trava desde os primeiros tempos do marxismo.

Conclusão, em vez de perder tempo o PCP deveria apelar ao voto no PSD, sempre se poupam dois anos de crise política, mais dois anos de atraso nas reformas de que o país carece. Em contrapartida o PCP retoma o papel de lanterna da esquerda, até pode ser que derrote o incómodo Bloco de Esquerda.