sexta-feira, junho 06, 2008

A democracia gera mediocridade?


É esta a frase de André Gonçalves Pereira dita numa entrevista ao Jornal de Negócios e que serve de manchete à edição de hoje daquele jornal. A ideia não é nova, é partilhada por uma boa parte da direita portuguesa que gosta de apresentar o Estado Novo como um regime de governo em que a competência era um critério de escolha.

A tese não é exclusivo da direita, à esquerda também há quem durante anos nos tenha impingido as revistas “Sputnik” e “Vida Soviética” para nos mostrar os grandes progressos, sociais, económicos e tecnológicos do Leste. A verdade é que mesmo podendo gerar mediocridade as democracias trouxeram progresso social, os países que viveram ou vivem ditaduras estão entre os menos desenvolvidos.

De nada serve a escolha dos mais competentes se isso servir para manter uma sociedade sem criatividade e concorrência, vivendo à sombra de um regime numa ditadura que serve como instrumento proteccionista. Entre um político competente cujo objectivo é manter tudo como está e um medíocre que nada consegue mudar a diferença não é grande.

É verdade que a mediocridade, que não é novidade nos últimos séculos da história deste país, exibe-se mais em democracia, mas também é verdade que é mais facilmente protegida e escondida sob uma ditadura.

O país enfrenta grandes desafios mas a solução para o sucesso não está neste tipo de frases, está em aceitar esses desafios e compreender que só serão superados se aceitarmos o desafio da concorrência. Concorrência entre empresas, concorrência entre políticos, concorrência sem truques e assente na transparência. Não são as ditaduras que afastam os medíocres, são os modelos económicos, sociais e políticos que dão a vez aos mais competentes, em vez dos mais fortes que, não raras vezes, são os mais medíocres.

Sem democracia não há concorrência, sem concorrência são os medíocres que vingam.