sábado, junho 21, 2008

Umas no cravo e outras tanta na ferradura -

FOTO JUMENTO

Garça, Tavira

IMAGEM DO DIA

[REUTERS / Morris Mac Matzen]

«La cara de la derrota. Aficionadas portuguesas observan como su selección pierde ante Alemania por 3-2, en los cuartos de final de la Eurocopa» [20 Minutos]

JUMENTO DO DIA

Só penso que nada penso

O discurso de abertura de Manuela Ferreira Leite no congresso do PSD foi como ela própria, muito pobre, um discurso sem ideias e sem projectos, apenas visando criar misticismo em torno da autora que nada diz do que pensa, muito provavelmente não pensou nada que vale a pena dizer.

Manuela Ferreira Leite pretende criar um mistério em torno das suas propostas, como se as suas ideias não fossem conhecidas, podem ser pobres e escassas, mas são desconhecidas. Não basta dizer que com o seu silêncio credibiliza o PSD, o que pode credibilizar o PSD são as suas propostas, já que quanto à personalidade e perfil da líder do partido pode dizer-se que é pouco.

Até agora o pensamento político de Ferreira Leite pode ser sintetizado num "só penso que nada penso".

O MINISTÉRIO PUDICO

«Politicamente, adia-se o assunto com a chancela do "fracturante" e o "há outras prioridades". Juridicamente, e apesar de a questão estar pendente no Tribunal Constitucional, pouco se tem discutido. Até agora: três dos pareceres que junto do TC defendem a inconstitucionalidade do Código Civil no que respeita aos artigos 1577.º (define o casamento como "contrato celebrado entre duas pessoas de sexo diferente") e 1628.º (considera nulo o casamento de pessoas do mesmo sexo) foram publicados em livro pela editora Almedina. Da autoria de Carlos Pamplona Côrte-Real, Isabel Moreira e Luís Duarte d'Almeida, o volume, lançado esta semana, permite antes de mais conhecer as características jurídicas do casamento, aspecto fundamental no debate, e prossegue na demonstração da inconstitucionalidade dos dois referidos artigos. Acessíveis a não juristas pela linguagem e pela explicitação clara das questões, os três pareceres permitem a qualquer leigo entender que a proibição em vigor está longe de ser fácil de defender, com seriedade, do ponto de vista jurídico, até porque a própria definição do casamento na lei em vigor está longe de ser clara.» [Diário de Notícias]

Parecer:

Por Fernanda Câncio.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Afixe-se.»

A NECESSIDADE DE EMPOBRECER

«Cada vez que há uma crise do petróleo, aparece a ortodoxia a proclamar zelosamente duas coisas. Primeira, que temos de pensar a sério na energia solar e na energia eólica. Segunda, que temos de mudar de vida. É uma conversa sem sentido. A energia eólica e a energia solar, no estado actual da tecnologia, não resolvem problema nenhum: cobrem uma pequeníssima parte do consumo e, sobretudo, são caríssimas. Quanto à necessidade, e à urgência, de mudar de vida, nunca a ortodoxia explica exactamente o que isso na prática significa: significa um empobrecimento tão extenso e tão profundo que, mesmo num país como Portugal, com a sua miséria e o seu atraso, 80 por cento da população não a suportaria. "Mudar de vida" seria pior do que uma revolução, seria o fim de uma civilização.

Com a minha idade, um homem pode imaginar um país devolvido de repente a 1948 ou 1949, antes de enriquecer e de engordar com o petróleo barato. Bem sei que o Portugal de Salazar não serve de exemplo (mas já lá vamos). Por agora, basta falar da classe média urbana. Em Lisboa quase não se viam "automóveis" (como se dizia). Toda a gente andava de eléctrico (muitos do século XIX) ou de autocarro (de resto, poucos). Viagens não se faziam ou só se faziam de longe em longe com trepidação e sacrifício. Em casa, não existiam electrodomésticos fora a telefonia (um luxo) e o frigorífico (outro luxo) e o ocasional aspirador ou ferro de engomar (o fogão era naturalmente a gás). Não me lembro de ar condicionado: nem na escola, nem na faculdade, nem no trabalho. As roupas, como os livros, passavam de irmão a irmão ou de pais para filhos. Ninguém desaproveitava comida, meticulosamente medida e recozinhada, que ia ressuscitando de "prato" em "prato". Ninguém acendia a luz sem precisar. E o cinema estava reservado para sábado ou domingo (um dia por semana).

Quando comecei a sair de Portugal, num Mini perigosíssimo, não encontrei auto-estradas que me separassem do mundo, encontrei estradas de vinte e trinta anos com um trânsito suportável e até simpático. Em Inglaterra, apesar da euforia do tempo, as pessoas contavam tostões - libras, se quiserem - e andavam vestidas para "durar". Até em Londres (como na "Europa" inteira) o "automóvel" não se tornara ainda uma sufocação. Esse "equilíbrio" - se me permitem a palavra - acabou.

O slogan "mudar de vida" é uma pura fraude, com que os políticos mistificam a populaça. Tirando um milagre, voltar à pobreza é do que se trata. Pela força e pelo sofrimento.» [Público assinantes]

Parecer:

Por Vasco Pulido Valente.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Afixe-se.»

NOVAS REFLEXÕES SOBRE CAMIONISTAS

«Uma das características mais típicas do nosso tempo é a forma como a informação evolui. A informação tende a ser instantânea, espectacular, efémera e não sujeita a qualquer tipo de reflexão e de enquadramento. O caso do bloqueio feito pelos camionistas, e que paralisou praticamente o país, fornece um bom exemplo.

A informação é instantânea: o facto relevante existe e minutos depois (em regra os media são previamente avisados...) irrompe nos noticiários. A informação é espectacular: os acontecimentos ligados aos camionistas, em si mesmos - e descontando até os inúmeros actos de violência física e verbal que deliciam os media porque fixam telespectadores - foram shows com grande carga visual. A informação é efémera: de um dia para o outro o assunto desaparece totalmente de nossas casas, substituído por outros acontecimentos, pois a gratificação tem de ser feita pela variação dos estímulos e não pela reflexão sobre eles. Por isso nada e ninguém se interessou mais em desenvolver o tema e sobre ele reflectir.

Nada e ninguém é, obviamente, um exagero. Por exemplo, o líder da Intersindical, Carvalho da Silva, que é um dos mais qualificados actores políticos portugueses, dedicou tempo e reflexão ao assunto, não caindo no erro do PCP. De facto, atacou o Governo pelas cedências, pela satisfação de exigências de grupos parciais ao sabor do seu radicalismo e clarificou que este tipo de movimentos não é no interesse dos trabalhadores.

Creio que Carvalho da Silva percebeu o mesmo que eu explicitei há uma semana. A acção dos camionistas é protofascista, expliquei e dou aqui como reproduzida a explicação para poupar espaço e tempo. E um homem com o sentido do confronto de classes, como o líder da Intersindical, sabe que movimentos de pequenos patrões em cólera, liderando os seus trabalhadores numa espécie de "corporativismo de base", habitados por violência e sem enquadramento ideológico e estratégico, nunca se traduzem num avanço do "proletariado", mas numa futura instrumentalização - quiçá paradoxal - por uma liderança autoritária e populista, que acaba por fazer recuar o processo de emancipação social. E para chegar a esta conclusão nem é preciso ser gramsciano, o que nem ele nem eu seguramente somos...

Por tudo isto, acho que vale a pena remar contra a maré e voltar a visitar o tema, apesar de reconhecer que não faltam outros com muito interesse, como seja o referendo irlandês, que pode - de novo quiçá paradoxalmente - fazer avançar mais o processo europeu do que se o resultado tivesse sido o oposto (tema a que voltarei noutra ocasião).

O que me espantou nesta movimentação não é que a evolução das sociedades tenha retirado aos "trabalhadores" a capacidade bloqueadora que permite extrair cedências aos empresários e aos Governos. Isso já nós sabíamos há muito tempo: as greves são maçadas e incómodos, mas o sistema político-social vive perfeitamente com elas. É certo que certos sectores do "proletariado" (como, por exemplo, os maquinistas de caminho-de-ferro ou os pilotos de aviões) têm poder real de bloqueio, mas claramente que preferem desde sempre - elite operária ou média burguesia que são - não se confundir com os mais desfavorecidos nas respectivas áreas de actividade e são assim olhados com suspeições várias.

O que me surpreendeu, e fez pensar, foi este fenómeno dos camionistas. As sociedades modernas desenvolveram uma rede de pequenas e médias empresas em que as regras do direito laboral dominante se aplicam mal, onde muitas vezes o "patrão" foi um trabalhador que conseguiu acumular alguns recursos e possui sentido de risco, numa sociedade onde através da subcontratação (outsourcing, dizem os gestores) se criaram estruturas inorgânicas de um exército de reserva que já não é de operários, mas de empresários.

Isto acontece um pouco por todo o lado e cada vez mais (veja-se, por exemplo, as microempresas de construção civil e de instalações especiais), em parte como forma de contornar as limitações da legislação laboral que as empresas maiores não conseguem evitar, em parte pelas facilidades que as novas tecnologias oferecem às microempresas, em parte também pela elevadíssima produtividade (construída nalguns casos sobre abusos que a fragilidade negocial dos que nelas trabalham potencia) que as caracteriza e que lhes permite competir com estruturas mais fortes, em parte pela fidelidade que conseguem obter dos trabalhadores numa espécie de lógica semelhante à das guildas medievais.

Esta classe média baixa produtiva, que em tempos bons acumula riqueza, que trabalha duramente, que despreza as elites sociais e económicas, não se enquadra em nenhum dos paradigmas que herdámos da sociedade industrial. Já o sabíamos em relação aos sectores de tecnologias avançadas, de que são exemplo as empresas sem sede ou escritórios que se multiplicam nas cidades dos EUA. Agora percebemos que isso se estende cada vez mais aos sectores tradicionais da economia.

Dir-se-á que Portugal sempre foi um país de pequenas empresas. É verdade, mas por trás de uma continuidade estatística perfilam-se realidades muito diferentes. Estas fazem jacqueries e, à sua maneira, mobilizam-se ao mesmo tempo contra os sindicatos (que repugnam) e contra as grandes empresas (que desprezam). Os partidos políticos em que esta gente vota (PS e PSD, como se demonstrou quando já depois do meu artigo da passada semana se soube quem eram os cabecilhas) continuam a pensar neles como eles eram há uma ou duas décadas. Perderam o contacto com esta sua base de apoio. Sarkozy e, mais ainda, Berlusconi perceberam e neles basearam o seu projecto político que a muitos surpreendeu. Em Portugal alguém, um dia, perceberá também. E não penso que seja bom para Portugal. Deus queira, aliás, que não seja inevitável...» [Público assinantes]

Parecer:

Por José Miguel Júdice.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Afixe-se.»

DA PRÓXIMA VAI TUDO À PANCADA

«A audiência com as confederações patronais era apenas mais uma entre muitas. Acontece que na delegação ia um representante das empresas de transportes que puseram a cabeça em água ao primeiro-ministro. Os primeiros cinco minutos do encontro foram gastos a falar da Europa e do ‘não’ irlandês ao Tratado de Lisboa. O pior veio a seguir. Sócrates passou a falar de Portugal e da crise internacional. Disse que tinha reduzido o défice, consolidado as contas públicas, feito crescer a economia e até tinha conseguido aumentar o emprego. Apesar disso tudo, apareceu esta crise. Injusta para ele, Sócrates. Os combustíveis aumentam, os juros também, os produtos alimentares disparam e até a Espanha está em crise. Uma injustiça. E, no meio disto, aparecem os transportadores a fazer bloqueios selvagens que quase pararam o País. Irritado, embalado no seu discurso, Sócrates não teve papas na língua. E, num tom de voz visivelmente alterado, avisou os presentes de que não ia admitir mais bloqueios. Se fosse preciso, ia tudo à pancada.» [Correio da Manhã]

Parecer:

Aposto que da próxima o PSD, com JPP à cabeça, vai opor-se à pancada.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Espere-se para ver.»

DESCULPAS DE MAUS PAGADORES

«Os camionistas não receiam a investigação da Procuradoria-Geral de Lisboa sobre os crimes cometidos durante o bloqueio da última semana. Os representantes dos motoristas pedem apenas aos procuradores que, no apuramento de todas as responsabilidades, tenham em conta quem se juntou à manifestação para fazer simples agitação.» [Diário de Notícias]

Parecer:

Agora que podem ficar a contas com a justiça descobriram que haviam agitadores.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Pergunte-se aos responsáveis porque em vez de denunciar os tais agitadores deixaram-nos actuar.»

MANUELA FERREIRA LEITE JÁ ESTÁ A PERDER COM O "NEGÓCIO"

«Nas últimas semanas Ferreira Leite já tinha renunciado ao cargo de Conselheira de Estado a convite do Presidente da República, sendo que na passada segunda-feira a agora líder do PSD já tinha abandonado o comentário de actualidade política no programa 'Falar Claro' da Rádio Renascença. » [Diário Económico]

Parecer:

Registe-se o facto.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Elogie-se o gesto da líder do PSD.»

PROFESSORES DE MATEMÁTICA CRITICA EXAME

«A Associação de Professores de Matemática (APM) considerou hoje que o exame nacional de 9.º ano da disciplina foi o "mais fácil" desde que a prova se realiza, sublinhando que algumas questões poderiam ser respondidas por alunos do 2º ciclo. Também a Sociedade Portuguesa de Matemática (SPM) criticou o reduzido grau de dificuldade do exame, sublinhando que "a nivelação por baixo" poderá ter custos futuros "muito graves".» [Público]

Parecer:

O mais engraçado destas críticas é que esquecem os autores do exame, os próprios professores de matemática.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Pergunte-se à associação se acha que foi a ministra que elaborou a prova.»

SELECÇÃO RECEBIDA COM MÚSICA PIMBA

«Triste, João Pedro chegou uns bons minutos antes do avião Fernando Pessoa, que trouxe os "Viriatos" de regresso. João veio com a velha Renault Traffic, pintada com as cores nacionais e com duas potentes colunas de som no tejadilho, a debitar a banda sonora escolhida para o momento: José Malhoa, Vai ter que rezar.» [Público]

Parecer:

Uma boa escolha musical.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Aprove-se, tudo isto foi um espectáculo pimba.»

TÍTULO 38

  1. O "Pensamentos" dá destaque à Feira do Relógio de Neuchatell.
  2. O "Cu-Cu" gostou da fotografia de Oksana Muzyka.
  3. O "Agora Blogo Eu" também se riu com as propostas do PCP.

YELLOWSTONE

ILONA PULKSTENE

WE LOVE OUR DAUGHTER AND HER WIFE