Há uns anos atrás as “boas famílias” portuguesas não reconheciam o casamento civil como um verdadeiro casamento, os filhos e filhos das boas famílias casavam-se pela igreja, não o fazer seria um escândalo social. Mesmo assim durante muitos anos o divórcio era quase uma miragem, a direita tudo fez para que a lei civil se aproximasse o mais possível dos padrões estabelecidos pela Igreja Católica.
Hoje a realidade inverteu-se, o casamento religioso começa a rarear e é a própria Igreja que tudo faz para defender o casamento civil, uma instituição que no passado não reconhecia. O casamento católico transformou-se num ritual, chega-se ao ponto de se celebrarem meios casamentos, isto é, casamentos católicos onde apenas um dos membros do casal é católico e aceita os votos do casamento.
Não admira que Cavaco Silva se tenha oposto à alteração da lei das uniões de facto, para a direita ultra conservadora portuguesa a batalha já não está em impor o casamento religioso ou em transformar o casamento civil numa espécie de casamento religioso sem padre, agora defende o casamento civil como se estivesse em causa um dos seus últimos bastiões.
A verdade é que um casamento civil pouco mais é do que um contrato que estabelece direitos e obrigações para os conjugues. São alguns desses direitos e obrigações que muitos portugueses que vivem em união de facto querem ter. Mas Cavaco acha que lhes devem ser recusados, se os querem ter devem obedecer às suas convicções religiosas e casarem-se, se não o fazem são castigados.
Chamar pré-casamento às uniões de facto só porque esta situação gera direitos e obrigações é pura hipocrisia de Cavaco Silva, a verdade é que as situações existem, geram situações de alguma complexidade, desde o plano patrimonial até aos filhos e a lei ou é omissa ou é injusta. O próprio Cavaco reconhece a realidade, mas parece que a injustiça é um castigo merecido para os que não partilham das suas convicções.