A verdade é que nem os subsídios nem a caridade acabam com a pobreza, aliás, nem diferem muito na sua essência, não passam de duas formas diferentes de distribuir dinheiro aos pobrezinhos. No caso da caridade dá quem quer e não é seguro que todos recebam, com os subsídios estatais a contribuição é obrigatória e a caridade estatal torna-se num direito. Associar uma política de esquerda ao volume de subsídios é uma hipocrisia, da mesma forma que o é dizer que graças a esses subsídios diminuiu a pobreza.
A pobreza não é apenas um problema estatístico, é antes um problema social com facetas muito diversificadas que não é superado apenas com distribuição de dinheiro. Os subsídios poderão iludir as estatísticas mas nunca resolverão o problema, antes pelo contrário, são cada vez mais os pobres que fizeram da pobreza profissão e que estão bem mais preocupados com o direito aos subsídios do que com o direito ao trabalho.
Políticas sociais que medem a pobreza através de médias estatísticas tratando de igual modo aquele que tem poucos recursos porque não tem trabalho com aquele que não tem dinheiro porque não quer ou não gosta de trabalhar têm muito pouco de social e geram mais injustiças do que combate à pobreza, resolvem o problema pela via estatística mas promovem-na e consolidam-na, transforma a pobreza económica em pobreza cultural, transforma um problema numa situação endémica.
Basta vir ao bairro onde moro para se perceber quanta injustiça é gerada por esta forma preguiçosa de combater a pobreza, os pobres não são aqueles que a Segurança Social acarinha com as suas estatísticas, esses têm casas novas , bons subsídios e encontramo-los à porta de qualquer café a beber cerveja. Os verdadeiros pobre são gente que trabalhou toda a vida cumprindo com todas as suas obrigações contributivas e que vive em casa degradadas onde pagam rendas e recebem reformas miseráveis, alimentam-se à base de sopa e quando o dinheiro lhes falta não tomam medicamentos, ao contrário de muitos “subsidiados” que, muito simplesmente, vão à Junta de Freguesia pedir mais dinheiro.
Toda a gente conhece esta realidade, da mesma forma que qualquer empregador que pretenda empregar alguém recorrendo aos centros de emprego sabe que a maioria dos desempregados que são enviados por esses centros de emprego aparece a pedir que lhes escrevam no papel que não se adequam ao emprego para poderem continuar a receber o subsídio.
A pobreza não se combate confundindo aquele que querem trabalhar com o que conclui que mais vale receber subsídios e fazer uns biscates sem recibo do que procurar emprego, tratando por igual aqueles que mandam os filhos para a escolas com o objectivo de se qualificarem com os que permitem que os filhos batam nos professores. Poderão iludir as estatísticas mas acabarão por transformar a pobreza num problema endémico.
Nos últimos dias tenho ouvido alguns burgueses bem instalados da nossa praça, alguns deles coleccionadores de reformas e vencimentos, de avenças e outras fontes fáceis de rendimento virem defender os pobrezinhos por causa do PEC, como era de esperar também apareceu Manuel Alegre. Esse grande patrono dos mais desfavorecidos. Falaram, falaram, falaram, mas nenhum deles discutiu a pobreza ou propôs uma única medida alternativa ao controlo e gestão mais eficaz dos dinheiros que os Estado gasta sob a forma de subsídios. Limitaram-se a fazer a afirmação da sua preocupação genuína com os mais pobres e protestar contra o corte de alguns subsídios.
Enfim, é muito fácil ser de esquerda quando se ganham fortunas no Banco Europeu dos Investimentos, quando se ganham boas reformas sem se terem feito grandes calos ou quando se está de barriga cheia. É muito fácil ser de esquerda com o dinheiro dos outros.