Se não houvesse PEC a esquerda romântica estaria tranquila, a direita exigiria as medidas que agora considera erradas, a esquerda conservadora dia que Sócrates estava no bom caminho. As prestações sociais seriam definitivas e um direito adquirido tantos dos que são inevitavelmente pobres como dos evitam a inevitabilidade de trabalhar, as empresas públicas continuariam a sê-lo para que os contribuintes continuassem a financiar as grandes lutas operárias.
Só que mais tarde ou mais cedo o serviço da dívida geraria défices orçamentais galopantes e a dívida externa sufocaria a economia, nessa altura nem a EU nos valeria e estaríamos a bater à porta do FMI que não só nos imporia as medidas do PEC que agora recusamos como as agravaria. Talvez fosse melhor assim, não teríamos que ouvir as balelas de Manuel Alegre, os candidatos à liderança do PSD teriam dito menos asneiras e o engenheiro Cravinho não teria saído do seu gabinete de luxo.
Quem fala em recessão ou está preocupado com a quebra do consumo, como o Belmiro de Azevedo, está a fazer um exercício de puro cinismo, a expansão do consumo não evitaria a recessão, limitar-se-ia a adiá-la e a ampliar a sua dimensão.
Avaliar o PEC apenas na perspectiva do seu impacto imediato é um erro intencional que muita gente anda a cometer, assim como ignoram intencionalmente as consequências do adiamento das medidas previstas no PEC.
Sem confiança na economia não há investimento e sem este não há emprego, avaliar o PEC implica ter em consideração o que sucederia sem as suas medidas e considerar no impacto destas medidas os efeitos da confiança dos mercados financeiros na economia portuguesa.