Nem a comissão parlamentar de inquérito vai investigar essa relação, apesar de ter sido nascida a partir de um conjunto de audições onde se tentou provar o poder de Sócrates na comunicação social, algo ridículo pois nunca um primeiro-ministro português foi tão atacado nessa mesma comunicação social. Até as conjecturas criativas do juiz de Aveiro já caíram no esquecimento, agora deverão estar a investigar se os robalos oferecidos pelo Godinho ao Vara obedeciam às regras de qualidade exigidas pela ASAE.
Hoje é evidente que o único resultado prático da denúncia do negócio e da disparatada intervenção de Cavaco Silva foi a inviabilização de um negócio que todos os agentes do mercado consideram ser do interesse estratégico da operadora de telecomunicações, um negócio que estava a decorrer obedecendo às regras de um mercado vigiado pela CMVM.
A questão que se coloca é se o negócio foi inviabilizado em consequência das pretensas relações com a política ou se os concorrentes da PT usaram o argumento da golden share e a insinuação de que pretendiam calar a dona Moniz para impedir a realização de um negócio que lhes interessava. O facto é que um dia depois do recuo forçado da PT apareceu um concorrente interessado na compra e à frente desse concorrente aparece dias depois José Eduardo Moniz.
A verdade é que desfeito o negócio da PT mais ninguém se lembrou da Manuela Moura Guedes, nem mesmo o Presidente da República que estava muito preocupado com a liberdade de imprensa, aliás, as declarações de Cavaco Silva são a síntese das posições dos diversos agentes políticos envolvidos neste negócio estranho. Aquando do golpe à PT estava preocupado com a liberdade de imprensa, quando foi entrevistado pela Judite Sousa já só estava preocupado com a possibilidade de Sócrates ter sabido da intenção de a PT querer comprar a TVI, algo que até o merceeiro da minha rua sabia.
Ainda ontem o presidente da Ongoing foi questionado no parlamento sobre as circunstâncias em que surgiu a oportunidade de negócio e o facto de ter reagido no dia seguinte e respondeu com evasivas.
A verdade é que os negócios da PT e a própria PT estão na mira grandes interesses e a golden share tem servido aos que pretendem condicionar a gestão da PT ou mesmo adquiri-la para pressionar a empresa e o governo. Quando se quer impedir a PT de fazer um negócio invoca-se a golden share para insinuar o envolvimento governamental, quando se pretende comprar a PT com a ajuda do Estado pressiona-se o governo no pressuposto de que pode usar a golden share a a participação da CGD no capital da PT.
Não é a primeira vez que a PT é alvo da pilhagem dos seus concorrentes, primeiro foi Belmiro a tentar comprá-la ao preço da uva mijona e a ficar ofendido por o governo não o ter ajudado. O resultado foi o desmembramento de parte dos negócios da PT com a criação da ZON ao mesmo tempo que o Público alterou radicalmente a sua linha editorial, pouco depois apareceu o famoso caso do diploma e desde então o Público tudo faz para ajudar a derrubar o governo. Agora foi o caso TVI com a PT a ser impedida de fazer um negócio em condições de igualdade com os seus concorrentes e, coincidência ou talvez não, apareceu o oportuno caso Face Oculta.
Começa a ser evidente que alguém está a tramar a PT. O mais curioso é que são os arautos do mercado que estão a ajudar a dar golpes sucessivos no mais apetecível dos mercados, o das telecomunicações.