Mas não gosto da imensa Feira da Ladra em que se transformou Portugal, uma feira onde tudo se trafica, desde cassetes de escutas a princípios deontológico, onde a democracia está à venda como se fosse um imenso painel de azulejos roubado e vendido azulejo a azulejo.
Tal como na outra nesta Feira da Ladra tudo está à venda, os compradores fazem de conta que não conhecem os vendedores, ninguém pergunta de onde veio o produto, a polícia faz de figura presente só intervém se alguém perturba o bom ambiente dos negócios. É uma feira feita de silêncios, de cumplicidades, quem vende sabe que roubou, quem compra sabe que o que leva para casa foi roubado. A regra é o silêncio, o encobrimento.
Nesta Feira da Ladra os políticos vendem a independência, os jornalistas vendem-se ao patrão, os agentes da justiça vendem a democracia. Quem não quer ir à feira, quem não quer negociar nesse mercado tem de se calar, se levantar a voz, se incomodar os que nela participam sujeitas a vendetas, todos, compradores e vendedores dessa feira se unem para o destruir.
Quem não alinhar no negócio sabe que na próxima terça-feira ou sábado é a sua vida privada que estará à venda, em toalhas estendidas no chão estarão cacetes com as suas conversas telefónicas, fotografias retratando a sua intimidade, atestados certificando a sua identidade. O agente da justiça transforma-se em operador de som, o jornalista em bufo, o político em limpa fundos de aquário.Nesta imensa Feira da Ladra não é só a democracia que está à venda, é a esperança de um povo, a alma de um país vendida a baixo preço por canalhas que no dia a dia se armam em gente fina, gente que se alimenta da miséria de um povo, do subdesenvolvimento de um país, gente que se escuda atrás de uma democracia que estão a vender como se fosse bugiganga roubada.