quarta-feira, março 10, 2010

Mau hálito

Morais Sarmento disse que se sente o mau hálito deste lado da televisão sempre que aparece Cavaco Silva no ecrã, sinal de que o conhecido ‘barrosista’ ainda tem olfacto razoável, ainda que de alcance limitado. Digo limitado porque se fosse bom sentiria o mau hálito em muito do que tem sucedido em Portugal nos últimos anos, desde o caso BPN até à famosa conspiração das falsas escutas a Belém.

Desde que Cavaco Silva foi eleito, o país tem em Belém um péssimo Presidente da República e um razoável candidato à recondução no cargo. Tudo em Belém gira em função dos interesses e da imagem da família Silva, tudo tem por objectivo de melhorar a posição de Cavaco Silva nas sondagens e assegurar a sua reeleição fácil, para isso não têm faltado sinais de que os homens do presidente ultrapassam aquilo que é aceitável em democracia.

Todas as candidaturas de Cavaco Silva a Presidente da República fizeram vítimas entre adversários ou mesmo companheiros, o rasto do seu percurso político está pejado de cadáveres políticos. Recorde-se como pôs fim ao Bloco Central e à carreira de Pinto Balsemão, como usou Fernando Nogueira e ajudou a ajudar à sua derrota com o famoso tabu ou o ataque cirúrgico que fez a Pedro Santana Lopes com o exemplo da “má moeda”. Cavaco nunca deu ponto sem nó, os seus objectivos parecem estar acima de tudo e mesmo dos companheiros de percurso.

Haverá alguma coincidência entre os ataques violentos a José Sócrates e a passagem de estatuto de candidato presidencial derrotado a virtual vencedor das próximas presidenciais? A verdade é que o PSD renasce das cinzas derrotado, sem líder e sem programa, ao mesmo tempo um Cavaco derrotado e discreto deu lugar a um Cavaco hiperactivo e a desenrolar o tapete vermelho em direcção a Belém. Cavaco disse que estava proecupado com a liberdade de expressão e depois disso foi o que se viu.

A mudança de estratégia de Cavaco Silva foi evidente, deixou de se ouvir falar do envolvimento dos seus assessores em manobras político-partidárias ou em conspirações políticas contra o governo, Cavaco manteve em relação ao caso Face Oculta o silêncio que não manteve no caso Freeport. Esquecido o incidente mal explicado das falsas escutas a Belém o por enquanto não candidato a Presidente da República beneficia de longos minutos de campanha televisiva através de entrevistas a canais de televisão amigos, até ficamos a conhecer a cozinheira de Belém. O país até ficou proecupado por a família presidencial viver numa casa pobre e sentir frio no inverno.

Morais Sarmento tem razão quanto ao mau hálito, só erra ao dizer que só o sente quando ouve Cavaco Silva na televisão. O mau hálito sente-se em muita coisa que se está a passar neste país.