terça-feira, março 23, 2010

Os contribuintes são um patrão muito paciente

As empresas públicas estão no centro do debate político em consequência das privatizações previstas no PEC, alguns economistas opõem-se porque desta forma o Estado perde capacidade de intervenção na economia, outros criticam-nas porque têm uma visão estatal do paraíso social e insistem em que ser de esquerda é defender muito Estado.

Por coincidência também nesta semana as empresas públicas foram notícia por causa da realização ou agendamento de várias greves e por uma conferência de imprensa em que Jerónimo de Sousa avisou o governo de que iria promover um movimento de contestação que, aliás, já se está a sentir.

Não sei muito bem como é que o Estado poderá intervir mais na economia através da CP ou da TAP a não ser através de tarifas mais baixas e, consequentemente, mais prejuízos. Tanto quanto me recordo as empresas públicas nunca promoveram a eficiência, nunca foram bem geridas e se alguma vez se modernizaram foi devido à pressão da concorrência do sector privado. Veja o exemplo da CGD, quando toda a banca era pública entrar nas instalações da CGD ou numa mercearia era a mesma coisa, os clientes eram tratados como se estivessem ao balcão de uma taberna.

Alguma esquerda defende as empresas públicas como símbolo do progresso social, mas nunca vi essa esquerda usar os seus sindicatos para ajudarem essas empresas a serem mais competitivas, ou a exigirem delas um melhor serviço e maior rentabilidade. Seria essa a melhor forma de defenderem um sector público forte, provando que é viável, que os seus trabalhadores são capazes de serem tão produtivos como numa empresa privada. Nem sequer os vejo a exigir que as empresas públicas sejam geridas competência, ainda que na hora de justificarem o seu mau desempenho argumentem sempre com a competência dos gestores.

A verdade é que num país em crise as únicas greves a que assistimos são nas empresas públicas e, pior ainda, naquelas que sempre deram prejuízos. Sempre que se esboça um movimento de oposição política ao governo, seja porque razão for, hoje por causa do congelamento dos salários, amanhã para lutar contra a maioria absoluta, as empresas públicas estão na linha da frente do combate político, os seus trabalhadores sabem que enquanto existirem contribuintes as empresas não irão à falência.

Chegamos assim à situação caricata de os trabalhadores fazerem greve agravando a situação financeira das empresas para conseguirem aumentos inviáveis em consequência dó défice do Estado que é alimentado também pelo prejuízo dessas mesmas empresas. Isto é, os trabalhadores ricos da TAP exigem salários mais altos a uma empresa pública que dá prejuízo para que sejam os trabalhadores pobres a pagarem esse aumentos de ordenados com o correspondente aumento dos impostos.

Neste caso a solução do problema é muito simples, privatizar as empresas públicas. O contribuintes deixariam de ter esse fardo, as empresas seriam mais eficientes, a luta política seria mais transparente e a democracia teria mais saúde.