Ora se não se existe uma Europa como assegurar que existe um euro? Tal só é possível porque a União Monetária assenta na força (leia-se enriquecimento) de alguns, muito poucos estados-membros, enquanto às pequenas economias está reservada a obrigação de se portarem bem, sofrerem sozinhos as consequências da livre circulação dos capitais e mercadorias, o impacto da liberalização das trocas mundiais, das importações crescentes de bens de luxo das grandes economias europeias, a fuga de cérebros para os países mais ricos e a fuga de capitais para os paraísos fiscais europeus que alimentam as grandes economias.
As pequenas economias sofreram mais com a crise internacional porque tiveram que suportar maiores custos sociais, têm maior desemprego estrutural gerado pela globalização, têm menores recursos para evitarem o endividamento público e as suas economias tardarão mais a recuperar por dependerem das economias mais ricas, daí resultando o prolongar da crise. O resultado é aquele que está à vista, os pequenos países da Europa correm o risco de verem as suas economias serem derrubadas pela especulação como peças de dominó, enquanto os mais ricos lhes dizem que façam o que teriam de fazer se não existisse o euro, que vão pedir ajuda ao FMI.
As economias mais poderosas da Europa beneficiaram em larga escala com o aumento do comércio mundial resultante da globalização, reforçaram as suas indústrias com as importações dos países menos ricos da Europa e na hora de assumir o preço da existência da União Monetária dizem aos outros que tenham juízo, se precisarem de apoio que o vão pedir ao FMI.
Isto é, em nome da estabilidade do euro a Grécia deve ir pedir ajuda ao FMI, mas em nome da livre circulação de mercadorias devem ir comprar carros à Alemanha e vestidos de marca à França, em nome da livre circulação dos capitais devem ver os seus recursos financeiros irem para o Luxemburgo e em nome da livre circulação dos trabalhadores devem deixar os seus melhores quadros irem para Frankfurt! Pior ainda, se ocorrer uma crise algures devem mandar para lá os seus jovens soldados em nome da solidariedade.
Com ou sem Tratado, com ou sem Euro, com ou sem União Europeia a Europa não existe, é um processo de integração formatado cada vez mais segundo a visão de uma má colheita de líderes europeus, gente pequena que inverteram o processo de integração de forma a servirem-se dele em favor dos seus países.
Ou há Europa e isso significa perceber que os custos da integração são de toda a Europa e não apenas da Grécia ou então que se ponha fim à Europa devolvendo toda a soberania aos seus membros pois essa soberania não pode servir apenas para comprar submarinos à Alemanha e aumentar impostos.
Esta não é a grande Europa de homens como Jean Monnet, Robert Schuman ou Delors mas a pequena Europa de gente Merkel, Sarkozi ou Berlusconi.