Porque não me parece que o movimento não me parece que seja tão espontâneo quanto quer fazer crer, evidenciando sinais de organização como a tentativa de boicote de um comício de um partido democrático. Ninguém vai espontaneamente para boicotar um comício “armado” de megafone.
Porque desconfio de um movimento com fortes apoios e patrocínios por parte de alguma comunicação social, com direito, por exemplo, a uma coluna permanente na edição online do jornal Expresso.
Porque desconfio de movimentos que visam directamente o ataque ao poder democraticamente eleito, bem como de manifestações que são supostamente contra a classe política instalada que contam com o apoio de toda essa classe política instalada, tendo mesmo o alto patrocínio de Cavaco Silva, Presidente da República e o político que se diz não político mas que foi quem durante mais tempo esteve à frente dos destinos do país (um governo como ministro das Finanças, parte de uma legislatura como primeiro-ministro, duas legislaturas como primeiro-ministro sem oposição, um mandato como presidente com direito a mais outro mandato presidencial), sendo o grande mentor do modelo social e económico de que os enrascados se queixam.
Porque os meninos-bem que têm dado a cara pelo movimento estão longe de representar os jovens que enfrentam maiores dificuldades, esses à hora da manifestação estarão a fazer reposições em supermercados e a desenrascar-se como podem. Não posso confundir o jovem que não tirou qualquer curso e não teve acesso a formação profissional ou os jovens licenciados em engenharia vítimas da crise na construção civil, ou jovens arquitectos ou advogados vítimas da proletarização forçada para proveito de grandes arquitectos e advogados instalados, com jovens que optaram por licenciaturas em violoncelo, comunicação e relações diversas que acham que as empresas têm de os empregar mesmo sem disporem de qualificações profissionais.
Porque as suas motivações são motivadas pelos seus interesses pessoais e mais do que protestar contra gerações de políticos que se amanharam e trespassaram as dívidas para as futuras gerações pretendem ter direito a um modelo de direitos adquiridos que já faliu. Mais do que os problemas do país e a busca de soluções pretendem a continuação de um modelo social inviável.
Desconfio de um movimento que junta jovens defensores da ditadura do proletariado com jovens que votam em Salazar como o maior português, jovens das nossas “boas famílias” com jovens do bloco ou da JCP.
Este movimento poderá ter nascido espontaneamente mas neste momento tem muito pouco de espontâneo, os jotas de todas as organizações políticas estão envolvidos sob disfarce, a comunicação social de direita está fortemente empenhada e até assistimos ao ridículo de ver um Cavaco Silva que sempre teve horror a manifestações vir apelar à participação.
Não gosto nada de ser “comido” por parvo! Muitos dos que vejo dizerem estar à rasca sempre tiveram melhor vida do que eu e agora que acham que estão em boa idade de terem as mesmas benesses dos papás estão preocupados.
Recordo-me das últimas frases do discurso de posse de John F. Kennedy "Por isso meus irmãos americanos não perguntem o que o seu país pode fazer por vocês. Perguntem o que vocês podem fazer pelo seu país. Meus irmãos do mundo: não perguntem o que a America fará por vocês, mas o que juntos podemos fazer pela liberdade do homem."