De um ponto de vista económico a realização de eleições antecipadas enquanto não existir estabilidade nos mercados financeiros pode ser um desastre para a economia e para o país. Entre a rotura política e a existência de um novo governo no exercício pleno das suas competências decorrem demasiados meses, sendo muito provável que Portugal seja incapaz de se financiar nos mercados para cumprir para com os credores da dívida que entretanto vencer. Daqui resultará uma grave crise para o país e conduzirá Portugal a uma situação de falência obrigando a um pedido de ajuda internacional em condições muito difíceis.
De um ponto de vista político as eleições antecipadas fariam todo o sentido, o governo é Sócrates e este conduz os destinos do país com base numa programa em quem ninguém votou e gere as medidas de austeridade em função de targets eleitorais, maximizando os resultados e minimizando as eventuais perdas eleitorais, pouco se preocupando com questões de justiça ou de equidade. Se o maus da fita são os funcionários cortam-se os seus vencimentos, se a populaça acha que as chefias do Estado são uns malandros destroem-se serviços públicos e exibem-se as cabeças de meia dúzia de chefes.
De um ponto de vista pessoal pouco tenho a perder com eleições, o Estado está desorganizado e desmotivado, as novas regras que foram adoptadas são uma farsa, a equipa do ministério onde trabalho é a mais incompetente de que tenho memória.
Na perspectiva de José Sócrates este é o melhor momento para arrear ou levar Pedro Passos Coelho a um recuo humilhante, ao mesmo tempo que força ao silêncio um Cavaco Silva que ainda há poucos dias, na tomada de posse, dizia que havia limites para os sacrifícios, apelava ao sobressalto colectivo e dava o seu apoio a uma manifestação. Pode acusar Passos Coelho de empurrar Portugal para o FMI ao mesmo tempo que este perde a credibilidade na Europa, começando pelos seus próprios parceiros no Partido Popular Europeu.
Para Passos Coelho e para a direita as eleições antecipadas serão um presente envenenado, em vez de poder criticar as medidas de austeridade que Sócrates adoptou com o seu apoio vai ter de explicar aos portugueses com que medidas consegue evitar a bancarrota e que medidas está disponível para aceitar no quadro de um acordo com o FMI. A estratégia era conduzir o governo a um pedido de ajuda externa mas com as eleições a realizarem apenas depois de feito um acordo com os financiadores externos, podendo então acusar Sócrates por todas as medidas de adoptou e teve de adoptar depois de ter levado o país à falência. Quando o PSD se opõe ao PEC IV o que pretende é precisamente impedir que Sócrates consiga fazer com que o país saia do pântano financeiro em que se encontra, conduzindo-o a um pedido de ajuda externa.
Do ponto de vista da generalidade dos portugueses quaisquer eleições agora não passam de mais um espectáculo político até porque vão escolher um governo e depois vem o FMI escolher a política. Os argumentos são pouco sérios, o PCP e o BE continuarão a dizer-lhes que o paraíso está no fundo do saco do dinheiro do Estado e mais de 15% dos portugueses ainda acreditam nisso, Sócrates vai prometer fazer coisas que esquecerá no dia das eleições e Passos Coelho vai dizer-nos que tem um grupo de estudos que já estudou tudo e garante que o país sairá de uma situação de insolvência com redução da receita e sem aumentar os impostos, ao mesmo tempo que assegurará que o despedimento verbal será suficiente para assegurar o crescimento económico.
Um dia destes os portugueses terão de pensar se não será melhor encontrarem um modelo constitucional que conduza a governos maioritários a não ser que queiram insistir numa democracia que não funciona e que está a condenar o país ao atraso, transformando a política num jogo de oportunismo que apenas favorece líderes partidários fracos e projectos políticos populistas ou utópicos porque são esses os que melhor se vendem a eleitores desesperados.