Agora que estavam reunidas todas as condições para que os portugueses terem a oportunidade de perceber o que seria a magistratura activa prometida por Cavaco Silva eis que somos surpreendidos com a magistratura do silêncio. Como entender que o mesmo Cavaco que apelou ao voto para evitar as consequências financeiras de uma segunda volta, mesmo sabendo da indiferença dos mercados financeiros em relação à disputa de um cargo sem poderes executivos, está agora em silêncio sabendo que as eleições antecipadas conduzirão o país à insolvência?
Não estou a apelar à intervenção de Belém, não acredito em nada do que prometeu ao país e seria um contra-senso acreditar que o que move o actual Presidente da República são os “superiores interesses da Nação”, Cavaco não está nem nunca esteve acima dos jogos político partidários, antes pelo contrário, tem sido um dos jogadores mais activos e sempre tendo por objectivo a sua própria imagem. Basta ter ouvido as últimas posições de Manuela Ferreira Leite, a caixa de ressonância oficiosa do Palácio de Belém, para se perceber qual a estratégia de Cavaco Silva, e o protagonismo parlamentar dado à velha cavaquista só mostra até que ponto Cavaco está envolvido nesta crise. Aliás, esta crise política começou precisamente com o discurso de posse de Cavaco Silva. Cavaco Silva não é uma carta fora do baralho da luta político-partidária, é antes o ás de trunfo da direita.
A direita portuguesa não arrisca mais um dia sabendo que a superação dos problemas institucionais do Euro pode ajudar Sócrates a recuperar da grave crise financeira que o país enfrenta. Dar uma oportunidade ao governo significava neste momento perder a oportunidade de eliminar Sócrates de uma vez. Falhado o caso Freeport, abortado o inquérito parlamentar ao caso TVI, falhadas todas as tentativas lançadas por alguns sectores da magistratura e perdidas as eleições legislativas a direita percebeu que era agora ou nunca. E entre uma crise partidária à direita ou a bancarrota do país, Cavaco e a direita não hesita na escolha. A direita liderada por Cavaco Silva teve de optar entre esperar pela superação da crise financeira que beneficiava Sócrates ou lançar ou antecipar eleições mesmo que isso custe uma bancarrota ao país, Cavaco, Passos Coelho e Paulo Portas nem pensaram duas vezes, mas foram confrontados com o PEC IV começaram a preparar as eleições antecipadas.
Os vastos conhecimentos de economia do professor Cavaco só serviram para ganhar uns trocos com acções manhosas, para fazer uma troca de imóveis de contornos estranhos, para fazer promessas eleitorais e para chantagear os eleitores. Agora que Cavaco poderia explicar aos portugueses as consequências financeiras Cavaco opta por do silêncio cínico, enquanto uma boa parte do país apelava ao bom senso em Belém já estavam a preparar o discurso de dissolução do parlamento. Agora que o país enfrenta uma crise a sério e é a vez dos homens de coragem, Cavaco comporta-se como um jogador de lerpa e diz que não vai a jogo. Cavaco não está à altura das circunstâncias, é um político de pequena dimensão para quem o país é visto segundo o seu próprio projecto e depois de estilhaçado o mito da competência e da honestidade não perderia a oportunidade de se livrar de Sócrates, mesmo que isso conduza o país à bancarrota.