Uma grande parte dos portugueses não vai votar a pensar no país, uma boa parte dos comentadores e analistas políticos são a voz do dono, os grupos profissionais votam no diabo se isso lhes servir os interesses, os idosos votam a quem lhes prometer mais pensões, os professores elegerão quem lhes reduzir o horário e os dispense de avaliação, os farmacêuticos votam depois de ouvir o presidente da ANF, etc., etc..
O país está refém dos interesses de grupos e até mesmo de meia dúzia de personalidades influentes, veja-se, por exemplo, o que Passos Coelho e o PSD fez e disse nos últimos dias, fez o frete aos professores que por serem muito bons não querem ser avaliados e prometeu a privatização da RTP para alegria de Pinto Balsemão, os jovens e os portugueses que se lixem, os professores valem votos e o dono de quatro canais de televisão e de vários jornais e revistas vale ainda mais.
Até Cavaco, que andava tão preocupado com os bens transaccionáveis, parece ter mudado de opinião a partir do momento em que achou que haviam condições para o assalto ao poder executivo, deixou de se preocupar com a economia e passou a defender uma austeridade sem sacrifícios, como se tivesses descoberto a transposição para a economia dos princípios do parto sem dor. E como se isso fosse pouco juntou-se a Louçã e a Jerónimo de Sousa no apelo às manifestações.
Como é que se pode melhorar a justiça se o país tem magistrados e advogados a mais e é preciso dar de comer e bem a toda essa gente? Se um processo fosse resolvido em meses em vez de esperar anos quantos advogados ficariam no desemprego, quantos juízes deixaria de dizer que precisam das férias judiciais mais as segundas e sextas-feiras para preparar julgamento?
Vejo carrilhos e netos a cuspir no prato onde comeram, vejo uma verdadeira procissão de esfomeados virem dizer que é a vez deles terem direito a viver à grande e à francesa à custa dos contribuintes, vejo políticos a darem cambalhotas prometendo soluções recambolescas ou mesmo não propondo nada como se austeridade fosse mesmo o parto sem dor sugerido por Cavaco Silva. Não vejo ninguém propor soluções, dizer como se vai pagar a dívida, como se vão criar mais empresas para empregar os desempregados, como se vai estimular o emprego dos mais jovens, como se vai exportar mais para podermos financiar as exportações.
Não vejo ninguém discutir as soluções e quando abordam os problemas é usando-os como argumentos para proporem soluções em defesa dos seus interesses. Por exemplo, o hiper-merceeiro do Pingo Doce empresta um homem à campanha de Cavaco, paga a um sociólogo para falar mal do governo, e usa a publicidade que paga para ter tempo de antena e vir defender o FMI, solução que Pedro Passos Coelho se apressa a defender.
Com o país à beira do colapso graças a um modelo político que parece uma feira cheia de caga milhões, coisa inventada por um senhor que a três meses de eleições deixava de governar para passar a cortar fitas e a exibir a democracia de sucesso, o país bom aluno e mais tarde o oásis da Europa, resta aos políticos começarem a prometer o imaginável, petróleo no Algarve, a doação pelos EUA a Portugal do Fort Knox, a nacionalização a custo zero da banca suíça e outras parvoíces porque uma boa parte deste povo prefere acreditar nessas soluções e no parto sem dor do que convencer-se de que não há almoços grátis.
Por mim voto na solução mais realista, voto em quem me prometer que tudo ficará resolvido e os portugueses passarão a gozar de barriga ao sol com a descoberta de petróleo no Algarve. Bem esperemos que não venha o Mendes Botas probir essa promessa por causa da poluição das praias senão teremos mesmo de pedir ajuda ao Bin Laden e ir assaltar o Fort Knox.