Toda a gente já percebeu que Pedro Passos Coelho está a escolher o melhor momento para governar derrubará o governo quando isso lhe convir e não em função do interesse nacional. Quer que o governo caia na sequência de um pedido de ajuda externa ou depois o descontentamento atingir o clímax, de preferência quando as sondagens lhe atribuírem uma maioria confortável.
Entretanto Pedro Passos Coelho vive num impasse, tem medo de ir a eleições e receia que Sócrates ultrapasse a crise e acabe por sobreviver enquanto no seu partido os cavaquistas se livrem dele logo que começar a descer nas sondagens. Se for a eleições antes da bancarrota corre um sério risco de ver a situação inverter, passando a ser ele a governar sem uma maioria absoluta, se esperar pela bancarrota arrisca-se a que a Europa adopte medidas e supere a instabilidade no mercado da dívida soberana, aliviando Portugal da pressão.
Só que parece que Sócrates não gosta nada de ser marinado e mal Cavaco Silva aproveitou o discurso presidencial para o meter no tacho atirar-lhe com os temperos para cima não perdeu tempo para encostar Cavaco a Pedro Passos Coelho e os dois à parede. Toda a gente sabe que Cavaco livrar-se-á de Sócrates na primeira oportunidade mas que não morre de simpatias por Pedro Passos Coelho. O próprio Pedro Passos Coelho não morre de amores por Cavaco e sabe que ele não é o desejado pelo “miserável” professor para liderar um governo de direita.
Sócrates provoca Cavaco empurrando-o para os braços de Pedro Passos Coelho, se convocar eleições nunca mais se livra de Pedro Passos Coelho e enterra definitivamente o cavaquismo no PSD. Sócrates força Pedro Passos Coelho a tomar a iniciativa sabendo que o líder do PSD receia eleições neste momento, ainda por cima correndo um sério risco de entregar o país aos cuidados do FMI numa altura em que os mercados dão sinais positivos.
É evidente que Passos Coelho quer a vinda do FMI, mas em consequência de uma falhanço de venda de dívida soberana que coloque Portugal numa situação de insolvência e não na sequência de uma crise política da sua iniciativa. E como a receita do FMI é sempre a mesma é mais confortável governar com base num acordo assinado por Sócrates do que por um governo seu, ainda por cima sem a maioria absoluta. Se for Sócrates a assinar um acordo com o FMI o líder do PSD não só pode exigir que seja contemplada a agenda que consta do seu projecto de revisão constitucional mais as propostas avulso como o despedimento verbal ou a extinção das empresas públicas como condição para deixar passar o acordo, sempre é mais confortável levar a água ao moinho forçando medidas que depois não se apoia, recorrendo-se ao truque da abstenção, para mais tarde acusar Sócrates de todos os males.
Ora, se o PSD quer que o país vá para a bancarrota, se Cavaco que defendia que uma segunda volta nas presidenciais era uma desgraça para o país e mudou de opinião logo que venceu as eleições e aproveitou o discurso de posse para fazer uma declaração de guerra ao governo e apelar ao sobressalto, o melhor é fazer-lhes a vontade e ir para eleições.
É evidente que a direita é cobarde demais para assumir o governo agora, nunca o fez no passado, todos os governos que enfrentaram crises económicas graves ou foram do PS ou liderados pelo PS, a direita sempre se limitou a aproveitar-se de épocas de vacas gordas e o actual Presidente da República até derrubou um governo de coligação quando percebeu que a crise que ele próprio criara enquanto ministro das Finanças estava ultrapassada.
A direita quer governar? Pedro Passos Coelho quer ter a certeza de que vai ser o próximo candidato do PSD a primeiro-ministro? Cavaco Silva quer livrar-se de José Sócrates? Luís Filipe Menezes quer assegurar-se de que o seu filho chega a secretário de Estado? Pinto Balsemão quer impedir que mais um canal lhe retire receitas de publicidade? O pessoal do PSD e do CDS está mortinho por alcançar a manjedoura orçamental? O pessoal do BPN quer ter a certeza de que as verdades incómodas não cheguem a público? Paulo Portas quer certificar-se de que Passos Coelho não terá uma maioria absoluta e precisa dele a comprar submarinos para poder governar? Então é fácil, em vez de andarem a enrascar o país com hesitações tenham a coragem de ir a eleições, é fácil de as provocar, basta apresentar uma moção de censura ao governo.