Se algumas decisões de José Sócrates têm mérito quando avaliadas segundo uma perspectiva de longo prazo, no curto prazo a sua prestação é questionável. A reforma do ensino secundário (alguém se esqueceu do ensino superior), a produção de energias renováveis, a reforma da Administração Pública e outras reformas são uma questão de sobrevivência para o país, mas essa visão de longo prazo não pode iludir a realidade no curto prazo, esquecendo os desequilíbrios económicos ao nível da balança comercial e os riscos do endividamento externo.
Os governos de Sócrates têm-se caracterizado por uma visão económica no longo prazo, enquanto nos horizontes temporais do curto prazo a acção governamental tem sido mais condicionada por objectivos eleitorais do que pela conjuntura económica. Não admira que quase tudo o que signifique grandes investimentos seja mantido ao mesmo tempo que a economia é asfixiada por uma política de austeridade que tende a agravar-se.
Este dualismo nas políticas governamentais também explica que o governo é cada vez mais José Sócrates, uma boa parte dos ministros está em gestão corrente, cabendo a Teixeira dos Santos adoptar medidas avulso cortando aos que é mais fácil cortar e cobrando aos que é mais fácil cobrar para salvar as metas orçamentais. Ainda na semana passada a agenda governamental foi marcada por grandes obras, para esta semana Teixeira dos Santos avisar que cortaria mais se fosse necessário.
O problema é que algumas das grandes reformas adoptadas a pensar no longo prazo ou têm pesados custos a curto prazo, como a aposta nas energias renováveis, ou falhram na sua execução e agravaram os desequilíbrios de curto prazo. Falharam uma parte das reformas no sector do ensino obrigando o actual governo a abrir os cordões à bolsa para calar os professores e falhou a reforma da Administração Pública, o famoso PRACE gerido pelo ministro das Finanças que anda agora a fundir o que não deve fundir e à caça de chefes para poupar trocos.