Se não fosse o facto de José Sócrates ter ido a Berlim exibir a minha cabeça e a de mais uns quantos portugueses que ele escolheu para corrigir um desequilíbrio orçamental alimentado pela incompetência de Teixeira dos Santos e pelas ajudas generosas aos bancos, talvez andasse distraído como anda muito boa gente. Mas a forma como Sócrates e Teixeira dos Santos exibiram em Bruxelas os resultados da execução orçamental de Janeiro não só me irritou como me pareceu humilhante para um país com centenas de anos de história e que entrou para a CEE muitos anos antes de a senhora Merkel imaginar poder atravessar o muro de Berlim.
Mas parece que um país ir humildemente a Berlim mostrar os resultados de uma política de austeridade selectiva e pedir à chanceler alemã que diga umas palavrinhas à comunicação social a ver se pagamos menos juros no próximo leilão de dívida soberana já não ofende ninguém. Não fosse o Ferreira Fernandes, na sua coluna no Diário de Notícias, nem sequer os nossos comentadores, gente muito sensível a questões de soberania e de carácter, se teriam indignado, eles que passam a pente fino tudo o que Sócrates faz.
A direita que tanto se diverte a gozar com Sócrates quando este anda por aí a vender os Magalhães e que chama a si o papel de guardiã da honra nacional não ficou incomodada. Não admira, nas últimas legislativas a própria Ferreira Leite foi a Berlim na esperança de ter uma fotografia ao lado da senhora Merkel como prova da sua própria credibilidade e acabou humilhada, teve que dar a sua palavra de hora de que tinha sido mesmo recebida porque a chanceler não deixou tirar fotografias e não se deu ao trabalho de se assomar à porta.
Não sei o que é pior para um povo, se a bancarrota, um pedido de ajuda ao FMI ou ir semana sim, semana não a Berlim dizer à senhor Merkel que somos um povo que anda com uma mão à frente e outra atrás mas que na hora de suportar medidas de austeridade come e cala, ela que fique descansada que faremos tudo o que os seus assessores sugerirem porque temos um ministro das Finanças muito competente para cumprir ordens.