Nada impede que um autodidata consiga ganhar um Nobel da Economia, em muitos domínios do conhecimento académico hoje a informação está acessível a todos e é agora mais fácil aceder a todo o conhecimento sem sair de casa do que há três décadas atrás. Se alguém seguir um modelo de aprendizagem adotado num programa de curso pode muito bem adquirir os conhecimentos sem entrar numa aula.
Mas o autodidata terá dificuldades em certificar o seu estatuto, não será aceite como professor, o seu currículo não lha permitirá ter acesso à publicação dos seus artigos e se em tese pode ter conhecimentos para ganhar o Nobel, dificilmente o conseguirá porque sem qualquer certificação o seu conhecimento não será avaliado.
A certificação dos conhecimentos científicos é a forma de credenciar alguém e são essas credenciais que permite a disseminação e troca de conhecimentos entre a imensa rede que foram as universidades de todos o mundo. Quando se atribui um determinado grau académico ou estatuto a alguém por uma universidade está-se certificando perante todo o mundo universidade que essa pessoa tem condições para exercer uma determinada profissão ou que é alguém com preparação científica e pedagógica para ser docente numa determinada área científica, a um determinado grau académico e em universidades de determinado nível de reconhecimento internacional.
Quando se promove um licenciado a catedrático com a mesma ligeireza com que se promove um cabo a alferes, está-se a inseminar uma mentira na universidade. Isso retira credibilidade à universidade que transige na exigência e daí resulta a perda de credibilidade para os seus cursos e a perda de confiança nos seus professores e nos seus diplomados. As outras universidades deixarão de aceitar os seus professores ou de ministrar doutoramentos aos seus alunos.
É óbvio que um ex-primeiro-ministro tem muita experiência, mas essa experiência serve para cargos cujas exigências implicam possuir o tipo de conhecimento e de experiência adquirido nesse cargo. Ora, não é lendo memorandos sintéticos, fazendo discursos escritos por assessores e decidindo em função de critérios políticos que se adquirem os conhecimentos científicos e preparação pedagógica que são exigidos a um professor catedrático.
Se uma universidade criar um curso de economia sem ninguém com habilitações científicas e pedagógicas, tendo como critério de escolha a experiência política, esse curso não servirá nem para calceteiro e a universidade que o criasse perderia esse estatuto. Pensar que a brincadeira passa melhor ao nível de um mestrado ou de um doutoramento é ridículo, passa a mensagem de que os mestrados e doutoramento são cursos onde se fazem discussões da treta, sem qualquer fundamento científico e sem exigências pedagógicas.
Passos Coelho e outras personagens políticas merecem reconhecimento pelo seu percurso e experiência, mas esse reconhecimento é feito com medalhas e condecorações, que a seu tempo Marcelo não se esquecerá de conceder, mas nunca com estatutos e diplomas académicos. Dessa forma Passos é promovido a catedráticos mas os diplomas dos seus alunos valerá tanto numa universidade credível como um diploma do ensino básico. A questão não está em saber se Passos pode ou não merecer um título, mas sim se a universidade é o local adequado para premiar Passos com títulos. Não há uma luta política em torno de Passos mas sim uma luta em defesa da credibilidade das universidades.