É muito ter um bom emprego na capital e viver confortavelmente no Parque das Nações, com vista para o Tejo, passear nos passadiços junto ao rio, desfrutar do Parque Florestal de Monsanto bem cuidado e guardado, exigindo que os que vivem na aldeia e têm os terrenos como fonte de rendimento que plantem carvalho, paguem do seu bolso uma floresta economicamente inviável e que voltem ao tempo de guardar rebanhos de cabras.
É saudável conceder benefícios fiscais às energias não poluentes, engordando os lucros da EDP e baixando os preços de carros de luxo, ao mesmo tempo que se pede a quem tem terrenos que os dediquem ao ambiente, suportando os custos da manutenção e da limpeza.
Já agora, porque não converter os indígenas do nosso meio rural em figurantes para os urbanos tirarem fotografias nos passeios dados nos fins de semana prolongados, até poderiam usar os trajes do século XIX e limitarem-se a cobrar gorjetas aos turistas, como sucede com algumas tribos africanas da Etiópia, do Quénia e de outros países. Voltaríamos a poder ver rebanhos de cabras, mulheres enregeladas de frio a mondar a seara, trabalhadores a varejar as oliveiras e as amendoeiras.
Este é o mundo que já não existe e o que os “índigenas” que fugiram e deixaram as aldeias (as aldeias e não todo o interior como alguma propaganda sugere) do interior foi o fizeram todos os outros. Uns “sacaram” os subsídios para acabar com os rebanhos e as vinhas, compraram vivendas nas cidades do interior e reformaram-se, outro foram para as cidades, do litoral, do interior ou do estrangeiro, em busca de melhores empregos.
Umas vezes o discurso é o das reformas em nome da competitividade, tudo é gerido em função do mercado e de critérios de rentabilidade, mas quando falamos no interior queremos que tudo funcione como se vivêssemos na ex-URSS, sem mercado e pensando que se podem recolocar populações ou manter modelos económicos e sociais só para inglês ver.
Se queremos ambiente temos de o pagar, se queremos que o nosso mundo rural deve ser um parque florestal como Monsanto não podemos exigir que sejam os proprietários da floresta a pagar do seu bolso o que em Lisboa é pago com impostos. Os nossos agricultores plantaram eucaliptos da mesma forma que por cá se abrem lojas do chinês, restaurantes e se convertem habitações em alojamento local. No meio rural como nas cidades faz-se o que é rentável.
Faz todo o sentido que se invista no ambiente, que se mude o modelo florestal saído das ruínas provocadas pelo desenvolvimento urbano e pela Política Agrícola Comum, mas não podemos exigir à população que beneficia de menores rendimentos que invista em modelos florestais que não são rentáveis, ainda que o sejam de um ponto de vista ambiental.
Se queremos que seja adotado um determinado modelo florestal teremos de adotar uma política de rendimentos que compense os custos acrescidos de florestas ambientalmente sustentáveis e ricas em biodiversidade. Durante décadas o meio rural foi condicionado por uma PAC que promovia a produção em massa, está na hora de adotar uma política de rendimentos que em vez de promover o excesso de produção e a destruição do rendimento, viabilize as florestas que desejamos. Para isso temos de as pagar, não basta fazer exigências e aplicar multas.