Grafitti numa parede de Lisboa no tempo em que Marcelo era líder do PSD
Todos sabemos que Marcelo foi presidente do PSD ainda que para a história tenha ficado uma liderança falhada, uma saída com os cofres do partido vazios e sem recursos para pagar às secretárias que terão sido aumentadas de forma generosa na hora da despedida. Mas isso não significa que o partido fosse dele, era Marcelo que era do partido e não o partido que era dele.
Em Portugal já foram criados vários partidos que eram propriedades pessoais, o mais conhecido foi mesmo de um Presidente da República e da esposa. Ramalho Eanes não resistiu à tentação de ver o seu poder presidencial prolongado num partido e fundou o PRD. Com este regime híbrido a que designam por semipresidencialista há a tentação de o Presidente ambicionar mais poderes, não resistindo à tentação que o prestígio e a confiança no cargo lhe proporcionam.
Por várias ocasiões Marcelo Rebelo de Sousa j´+a esticou o lençol para além dos limites dos seus poderes e não esconde a tentação de ser um líder do país juntando aos poderes presidenciais a capacidade de orientar toda a ação governativa. Usando o populismo Marcelo tem imposto ao governo sucessivas prioridades, em função das circunstâncias anormais que vão ocorrendo. Num dia é o pagamento da dívida no outro as florestas, de vem em quando são os sem abrigo ou uma qualquer outra causa.
Da mesma forma que aprece ver os bispos, a quem gota de beijar os rubis, como líderes espirituais da sua igreja, pastores de um rebanho a que ele pertence, parece que como Presidente se sente na missão de líder espiritual da nação e todos somos ovelhas do seu próprio rebanho. Todos os dias comenta os acontecimentos que vão ocorrendo, aproveitando para dar lições, explicações e orientações. Legionella, boletins clínicos, fogos, acidentes de avionetas, de tudo Marcelo percebe, em tudo se envolve, tudo serve para dar orientações urgentes ao governo.
A tentação de transformar o PSD na sua marioneta, fazendo deste o seu partido é grande e as idas de Rui Rio a Belém sugerem que em vez de ser o Presidente a chamar o líder do partido para o ouvir, já é o líder do partido que vai a Belém ouvir o Presidente. Pela forma como Rui Rio comenta estas idas e pelo ar dócil de Negrão no parlamento fica-se com a sensação de que o líder do PSD vai a Belém ouvir orientações, conselhos e sugestões.
Ao mesmo tempo, alguém de Belém, as tais fontes anónimas do Palácio que Marcelo assegurou que não se iriam ouvir, vão pedindo aos jornalistas para que escrevam que o Presidente não quer uma maioria absoluta. O mesmo Marcelo que em 2017 o site para elogiar as maiorias absolutas de Cavaco Silva, parece agora preferir para reinar, descobriu que um Presidente tem mais poderes num país em crise do que num país que não precisa de homilias diárias.
Há um grande risco de Marcelo não resistir à tentação de converter o PSD no seu próprio PRD, usando os “favores” na comunicação para usar Rui Rio nesta estratégia. Quem torto nasce tarde ou nunca se endireita e Marcelo sempre esteve na política com muita intriga à mistura.