sábado, março 24, 2018

PEDRÓGÃO É IRREPETÍVEL?

A dúvida que se coloca neste dia nacional da limpeza das matas é se limpas as matas tudo teria ocorrido de forma diferente em Pedrógão ou nas localidades atingidas pelos incêndios de outubro, se todas as outras condições se repetissem. Infelizmente os incêndios são como os jogos de futebol, prognósticos só depois dos jogos. É fácil dizer o que se deveria ter feito depois de muitos meses a estudar o assunto.

Só que os incêndios não ocorrem nas condições e locais onde esperamos e muito menos segundo modelos de treino. Podem ocorrer em locais onde os recursos da GNR e dos bombeiros são escassos, junto a praias fluviais muito concorridas, onde as estradas têm eucaliptos juntos às bermas, nos dias mais quentes do ano e depois de meses de seca. 

Se as condições em que ocorreram os incêndios de Pedrógão voltarem a ocorrer um grande incêndio pode ter consequências semelhantes ao de junho passado. A limpeza do mato não impedirá a rápida progressão do incêndio, como o vento a passar o fogo de copa para copa, de vale para vale, o número de vítima dependerá de uma multiplicidade de fatores casuísticos. Se ocorrer uma debandada de turistas e residentes como ocorreu em Pedrógão e as estradas tiverem características idênticas, há uma elevada probabilidade de tudo se repeti.

Há acidentes que podem ser previstos e cuja resposta adequada pode ser treinada, mas também há circunstâncias que nos ultrapassam. Quando ocorreu o maremoto na Ásia era primeiro-ministro Pedro Santana Lopes, que prometeu um sistema de alerta e prevenção. Já depois disso assistimos a um grande maremoto no Japão e se tal vier a ocorrer na nossa costa nada impedirá o desastre. 

A oposição aproveita-se da desgraça, o Presidente fez mais uma das suas campanhas televisivas, o governo adota as medidas que pode, alguns familiares das vítimas aproveitam o oportunismo de uma líder política para tentarem uma carreira política, mas a verdade é que o incêndio de Pedrógão poderia repetir-se. Talvez com as casas menos vulneráveis, com as populações avisadas para as consequência do pânico e com algumas estradas com as beiras mais limpas. 

Mas nem os sábios dos relatórios são capazes de prever as consequências, não há modelo matemático que possa prever a evolução de um incêndio alimentado por ventos quase ciclónicos e com direções erráticas, da mesma forma que o comportamento das populações é imprevisível. Exigir dos bombeiros, dos políticas e dos governantes uma ação eficaz também os australianos e os californianos gostariam de se capazes.