Nas próximas legislativas vão haver duas disputas, uma disputa entre a direita e a esquerda e uma segunda disputa entre Rui Rio e o CDS. Se as sondagens passarem a perceção de que a esquerda ganha sem problemas, a verdadeira luta eleitoral vai ser entre os dois partidos da direita. Cristas já ganhou à candidata do PSD em Lisboa, onde nem a paragem do presidente num sinal laranja a ajudou, espera agora ganhar ao PSD no país.
Passos Coelho cometeu o erro estratégico de em vez de se assumir líder da oposição ter optado por ser devoto do mafarrico, esperando que fosse este a fazer a vida do António Costa num Inferno. Durante dois anos foi Assunção Cristas quem assumiu a liderança da oposição, muitas vezes de forma desastrada, mas a verdade é que o PSD esteve ausente.
Se Passos optou pela ausência, parece que Rui Rio preferiu desaparecer e em vez de fazer oposição opta por ir de vez em quanto tomar um chá com Marcelo rebelo de Sousa para aparecer na televisão. Mas o pior é que só ao fim de dois meses e depois de um namoro prolongado com o primeiro-ministro é que se lembrou que tinha algumas obrigações como líder da oposição.
Parece que David Justino vai ser o primeiro-ministro sombra do Conselho Estratégico Nacional, cabendo-lhe estudar as diferenças em relação à política do governo. Curiosamente, há poucos dias eram os tais ministros na sombra que iriam negociar os consensos com os ministros. Por outras palavras, ainda não se sabe muito bem como é que Rui Rio faz oposição, se negoceia de manhã e se opõe à tarde, se faz consensos em Lisboa e oposição no Porto.
Cristas percebe que ou a direita ganha as eleições ou o PSD não resistirá a satisfazer os seus partilhando o poder com o PS, dispensando os serviços do CDS e pondo fim a uma aliança que não se percebe se ainda existe. A líder do CDS não só assume a liderança da direita, fazendo um discurso que condiciona o PSD, como não tem vergonha de fazer seu o legado do governo de Passos Coelho.
Cristas sabe que pode ficar afastada do poder durante mais uma legislatura, mas aceita esse preço se sair das eleições como líder da direita. A verdade é que neste momento Assunção Cristas já não é apenas líder do CDS, é líder de uma direita onde está mais de 40% do PSD, precisamente os apoiantes de Passos Coelho. Ao assumir o legado do anterior Governo, ao ser mais leal como o PSD de Passos do que Rui Rio e ao continuar a segurar a bandeira e o programa do PAF, é bem provável que Cristas tenha o apoio silencioso dos apoiantes de Passos Coelho.
Rio ficou preso na sua própria estratégia e depois de anos num jogo de toca e foge, de deslealdade e de pequenas falsidades não sabe se deve assumir o legado do seu partido afastando-se de consensos com o PS sob o patrocínio de Marcelo, ou se deve assumir esse legado e assumir todas consequências eleitorais. Com as hesitações de Rio a líder do CDS afirma-se cada vez mais como líder da direita e Rui Rio arrisca-se a ser uma Teresa Leal Coelho das legislativas. A vingança serve-se fria e da mesma forma que os seus apoiantes tiraram o tapete à candidata por Lisboa, é a agora a vez de os apoiantes de Passos verem Rio em dificuldades.