Não importa se toda a informação de uma grande empresa, neste caso uma SAD, foi roubada para que uma concorrente conheça todos os seus negócios e a vida privada e íntima de todos os que trocaram conversas de e-mail através do servidor dessa empresa. Não interessa conhecer quem ou como foi cometido esse crime, quantos milhões se gastou na aquisição de um criminoso no campeonato dos golpes baixos. Muito menos se o mesmo tipo de crime pode atingir um banco, uma grande energética ou mesmo os servidores do Estado.
Este hacker é um hacker perigoso, graças a ele soube-se do maior caso de corrupção em Portugal, já não se trata de favores divinos a troco de santinhos, agora compram-se os segredos da justiça portuguesa a troco do bem mais precioso que alguém pode ambicionar ter, uma camisola do Benfica e assistir a um jogo. Se calhar o Centeno escapou-se da justiça da Mizé porque só tinha recebido o convite, ainda não lhe tinham dado a camisola.
O Hacker bom, a quem a justiça portuguesa agradeceu o favor de disponibilizar milhares de e-mails que nenhum juiz de instrução permitiria consultar, não só proporcionou ao MP mais informação do que o Edgar Hoover tinha sobre os Kennedy, como ainda ajudou a apanhar o hacker mau, o tal que por devoção aceitava servir a troco de santinhos.
Compreendo que um competentíssimo jornalista, tão competente que consegue chegar ao local das diligências ainda antes de todos os intervenientes saberem da morada, teorize sobre a bondade dos crimes, distinguindo a boa violação do segredo de justiça quando cometida pelos jornalistas e a má que é cometida por terceiros. A verdade é que o mais grave crime cometido pelo hacker mau não foi a violação do segredo de justiça, mas sim a democratização dessa violação, pela primeira vez alguém soube do conteúdo de um processo no DIAP antes do diretor da revista Sábado e isto sim, é um verdadeiro escândalo nacional.
O país ficou a saber que a devassa dos processos não é feita apenas pelas tais centenas de pessoas de que falou a Procuradora-geral, ao que parece não é preciso que venham os russos entrar no sistema da nossa justiça. Se um modesto funcionário de Guimarães entrava nos processos mais sensíveis, se a crer no que vai ainda há mais gente a divertir-se entrando nos processos, somando tudo isto à facilidade com que um jornalista "competente" sabe de tudo e com antecedência, é caso para dizer ao único português que não pode devassar o sistema que levante o dedo. Fica eleito o idiota nacional.