quarta-feira, março 07, 2018

O ESPALHAFATO

Há poucas semanas atrás, mal Centeno tomou posse do cargo do presidente do Eurogrupo eis que a justiça portuguesa, que é como vulgarmente se designa o MP) desencadeia uma operação que ia ser notícia pelo mundo fora, o presidente do Eurogrupo e ministros das Finanças de Portugal era suspeito de corrupção, teria feito um favor a troco de dois lugares para ver um jogo de futebol.

A Europa ia parando, o Partido Popular ainda tentou levar a questão ao parlamento Europeu, era um escândalo, o nível dos portugueses estava tão baixo que um ministro das Finanças se corrompia por dois bilhetes de futebol, era o fim da picada! Afinal, o indício foi uma notícia televisiva e depois de apuradas buscas no ministério e recolhida informação suficiente para que a Procuradora-Geral de Lisboa possa ter uma base de dados com informação pormenorizada do ministro, tudo ficou em águas de bacalhau.

Quase em simultâneo o país assistia em direto nas televisões à chegada de procuradores e juízes à casa do juiz Rangel, mais uma vês o país sustinha a respiração, depois dos governantes, altos magistrados, a que se juntam presidentes de clubes. Por este andar é melhor que o cardeal patriarca se ponha a pau e os pavões de São Bento que se cuidem, nesta vaga de limpeza só se escaparão puros cuja ombreira da porta prove prove a Deus que não vivem em pecado.

É um sinal dos tempos e da crise, o país está tão desgraçado que os ministros se podem corromper por um lugar para ver a bola, os juízes já só conseguem redigir acórdãos com a Judá das ex-mulheres e vendem-nos a troco de um lugar de porteiro no Estádio da Luz e é bom que o cardeal não ande a juntar uma coleção de cromos da bola não vá ser excomungado por ter pedido o cromo do Eusébio ao Luís Filipe Vieira.

Há meses que o país vive em espalhafato permanente e a sorte é que com tantas procuradorias distritais só a de Lisboa é que parece animar a festa, senão teria que ser declarado o estado de sítio. Semana sim semana não lá surge mais uma mega-operação com autocarros cheios de buscas e mais uns gigabites de informação para os arquivos privados da Procuradoria Distrital da capital.

Em anos de eleições o país costuma assistir a um circo de inaugurações, rotundas e estradas, hospitais e escolas, infantários e lares, tudo é inaugurado em ano eleitoral. Parece que a moda pegou e em ano de recondução da Procuradora-Geral ou de escolha de um ou uma nova detentora do cargo assistimos a um regabofe de grande processos judiciais, não há dia em que não haja alguém detido. Agora temos espalhafato futebolístico de dois em dois anos, eleitoral de quatro em quatro, de três em três e de cinco em cinco, e justiceiro de seis em seis. 

Só em pena que se tenham acabado os milhões do Carlos Silva e do Ricardo Salgado, o país está a ficar tão miserável que agora há quem se sujeite a destruir tudo na vida a troco de um lugar na bola, de uma camisola do Benfica, de um part time para um sobrinho no Museu Cosme Damião ou de uma carteirinha de cromos. Pior do que corrupto, o país está a ficar ridículo. Quando um dia for instalado o museu da justiça portuguesa poderemos ver o bilhete que levou à prisão do ministro, o santinho que meteu o cardeal na cadeira, o cromo que levou o magistrado á desgraça ou o par de meias que condenou um Presidente da República!