sábado, outubro 09, 2010

Dos parvos não reza a história

Compreendo perfeitamente a postura actual de Pedro Passos Coelho, não é fácil andar anos a preparar uma candidatura à liderança, escrever um livro, ganhar as directas, conceder centenas de entrevistas, subir exponencialmente nas sondagens e depois de estar no cume da montanha dar um trambolhão. Para alguém que já se julgava o dono do país, que até pensou que iria mudar a constituição ao seu gosto e que contava que Sócrates se substituísse ao FMI para adoptar as medidas duras que lhe proporcionassem uma governação com margem para promover a privatização dos sectores lucrativos do SNS, vive um momento difícil.

A verdade é que Sócrates derrotou Pedro Passos Coelho muito antes de eleições e num contexto financeiro muito difícil, o primeiro-ministro foi penalizado nas sondagens mas Passos Coelho sofreu muito mais, comprometeu o seu futuro ao evidenciar as suas fragilidades. Os eleitores poderão não gostar de Sócrates mas, o que é bem pior, deixaram de confiar na capacidade de Pedro Passos Coelho para governar um país.

Desde que chegou à liderança do PSD que Pedro Passos Coelho actua em função das sondagens, o seu calendário político é definido em função da possibilidade de ganhar eleições, primeiro apostou na comissão de parlamentar de inquérito, depois chegou ao ridículo de exigir a antecipação do orçamento para que Cavaco Silva dissolvesse o parlamento no último dia em que tinha poderes para o fazer, agora aposta tudo numa crise política que force eleições logo após as eleições presidenciais.

Pedro Passos Coelho não acredita em si próprio e já percebeu que as suas propostas não são da simpatia dos eleitores, aposta tudo na grave crise financeira que o país pode sofrer, resta-lhe a estratégia da terra queimada. Não admira que os seus mais próximos utilizem os blogues oficiosos da sua liderança para manifestarem a adesão à greve geral ou o apoio aos buzinões, perceberam que quanto mais tempo passar menores serão as probabilidades de Passos Coelho vir a ser eleito e sentem-se cada vez mais isolados dentro do próprio PSD, já não lutam apenas contra Sócrates, lutam também contra a sombra de Cavaco Silva.

As últimas sondagens mostraram que o PSD de Passos Coelho terá muito poucas hipóteses de ganhar eleições contando apenas com as suas capacidades, nem mesmo a reeleição de Cavaco Silva lhe poderá servir de alento pois o presidente já está reeleito e a presença do líder do PSD na campanha presidencial não só é dispensável como será um incómodo para Cavaco Silva. Passos Coelho terá que ganhar as próximas legislativas contra Sócrates, mas também contra um Cavaco Silva. irritado com aquele a que não se cansa de chamar à responsabilidade, isto é, com o irresponsável.

Com esta estratégia de terra queimada Pedro Passos Coelho corre um sério risco de ser apanhado pelo fogo que ateou e ficar queimado, dificilmente Cavaco Silva aceitará ter como primeiro-ministro alguém que aconselhado por personagens que o presidente detesta não hesitou em lançar o país numa crise financeira. Para Cavaco o líder do PSD não passa de alguém que não consegue ver a diferença entre uma associação de estudantes e um país, um líder sem carisma, manipulável por terceiros, sem ideias e projectos e irresponsável.

Passos Coelho poderá derrotar Sócrates levando o país à bancarrota, mas dificilmente sairá vitorioso, pior do que isso, porá um termo definitivo à sua carreira política. O melhor que conseguirá fazer será ressuscitar o cavaquismo, primeiro um governo de iniciativa presidencial, seguido da vitória de Cavaco nas presidenciais e eleições legislativas depois de os jovens tigres de Pedro Passos Coelho cederem a liderança do PSD aos cavaquistas.

Ninguém tem dúvidas de que Cavaco Silva alimenta a velha ambição de ver o PSD na presidência e no governo, a sua reeleição está garantida, resta-lhe agora ter no governo alguém da sua confiança que, como começa a ser evidente, não é Pedro Passos Coelho. Dos parvos não reza a história.