segunda-feira, outubro 25, 2010

O défice da esperança

Pior do que o défice das contas públicas ou o défice da balança comercial é o défice de esperança de que sofre a generalidade dos portugueses, que os leva a não ter esperança no no futuro e a aceitar as asneiras dos políticos como uma fatalidade nacional.

Os portugueses aceitam um OE brutal e se for feito um inquérito à população é muito provável que uma boa parte deles esteja convencida de que para o ano sofrerão novo corte no seu rendimento. Os funcionários públicos sabem depois de um corte nos vencimentos seguir-se-á outro, os trabalhadores do sector privado receiam com razão de que a impossibilidade de ajustamentos cambiais levará a reduções salariais, se não forem deciddias por acordos colectivos serão aceites perante a chantagem do encerramento das empresas.

Olham para a classe política e assitem a debates e jogos de poder que mais parece um jogo de matraquilhos, o país afunda-se na bancarrota e os partidos estão mais empenhados em ganhos eleitorais do que na resolução dos problemas. As propostas umas vezes são manhosas, outras são pouco realistas, a bola passa de uns para outros sem que ninguém explique os sacrifícios que vão ser-lhes exigidos, uns ignoram a realidade e resumem tudo a uma política, outros dizem-lhes que foi uma fatalidade inesperada.

Aceitam aumentos de impostos e cortes nos vencimentos sabendo que todo esse dinheiro corresponde ao que o país enterrou num banco inventado para enriquecer um grupo de amigos, um deles até pertencia ao Conselho de Estado e está algures, não se sabe bem onde. Roubaram mais de 4.000 milhões de euros ao país e os juízes estão mais preocupados com as despesas dos ministros.

O Presidente da República vai bocejando e gerindo a crise de forma a que o OE não lhe estrague os planos da apresentação oficial da candidatura, candidatura que revela tanta consideração pelos seus eleitores que até foi divulgada por recado num programa televisivo.

Teremos rendimentos para cumprir com os compromissos que assumimos, teremos emprego para o ano, teremos emprego no próximo mês, os cursos que os nossos filhos tiram nas escolas vão servir de alguma coisa, teremos pensão quando nos reformarmos? Não temos resposta para as mais elementares da nossa vida enquanto cidadãos, e a única certeza que Sócrates nos garante é que teremos TGV. Bardamerda para o TGV, porque para emigrarmos para Espanha não precisamos de ir tão depressa, dantes íamos a pé e atravessava-se a fronteira a salto.

Esta falta de esperança corroi-nos a alma enquanto povo, destroi-nos os valores, tira-nos a confiança na democracia, leva-nos a desistir enquanto nação e ao salve-se quem puder individual. Não há solidariedade nacional, os ricos escondem o dinheiro em off-shores, a burguesia política assobia para o ar, a classe média verga-se perante os impsotos e a ausência de desenvolvimento funciona como um supremo tribunal que confirma a sua condenação à miséria eterna.