sexta-feira, outubro 08, 2010

A economia portuguesa e a Linha do Tua

A nossa economia lembra-me o comboio da Linha do Tua, quando não está parado anda devagarinho, sempre que enfrenta uma subida mais íngreme range por todo o lado e não raras vezes para com uma avaria, quando parece que está a começar a andar bem sofre uma derrocada da linha. O povo recorda-se do tempo em que o maquinista era um tal Silva, comprou uma máquina em segunda-mão, pintou o comboio, mudou umas linhas e havia quem dissesse que aquilo quase parecia um TGV.

Se aumentam os passageiros a máquina não aumenta com tanto peso, não serve de nada substituir as linhas se as máquinas forem as mesmas, se substituem as máquinas as linhas não aguentam, se acelera descarrila, se anda devagar os passageiros fartam-se. Na economia passa-se mais ou menos o mesmo, se reduzem o consumo para aumentar o investimento entra em recessão e o investimento retrai-se, se aumenta o consumo reduz-se a poupança ao mesmo tempo que o investimento cresce à custa do endividamento.

O sistema de ensino está tão mal como as linhas, o pessoal da linha não tem grandes qualificações, o desconforto não atrai clientes tal como a pouco competitividade resulta na perda de mercados, o pessoal que mantém a linha está tão mal qualificado como a generalidade dos portugueses, os gestores da linha foram incapazes de as modernizar como sucedeu com muitas empresas.

E quando a composição para porque houve uma derrocada da linha, porque a máquina não aguenta com tanto peso ou porque uma carruagem descarrilou é a algazarra do costume, uns defendem a mudança do maquinista, outros resolviam tudo modernizando a linha, outros acham que se deve aliviar o comboio deixando para trás a carruagem que descarrilou, outros acham que dez passageiros de cada carruagem deverão abandonar o comboio, outros acham o melhor é mudar de máquina. De repente o comboio volta a andar, os passageiros entram nas carruagem ocupando os seus lugares, a composição retoma a marcha apitando alegremente e lá vão todos desfrutando da bela paisagem, porque o comboio pode ser uma desgraça mas não há paisagens tão lindas como as nossas.