sexta-feira, outubro 15, 2010

Não há maus orçamentos

Quando se pretende reduzir o défice em mais de 4% não á orçamentos bons, aliás, nunca há orçamentos bons, ou são maus ou são, simplesmente, orçamentos normais. Para reduzir um défice de 9% não há outra solução do que cortar na despesa e/ou aumentar nos impostos e não vale a pena anda a discutir se o corte é nos clips ou o aumento dos impostos deve incidir mais nas fraldas ou nos refrigerantes.

O problema do orçamento para 2011 não está só ou apenas nas medidas que contempla, mas na política que conduziu a um défice brutal ou pior ainda, no monstro em que se transformou o Estado e na loucura da nossa classe política. Veja-se, por exemplo, o que se passa com o ordenamento do território, temos centenas de câmaras municipais e milhares de freguesias, alguns pequenos municípios têm mais freguesias do que Lisboa, mas os nossos políticos acham que um Presidente da República, um governo central, dois governos regionais, três parlamentos, milhares de freguesias e um governador civil e dois ministros para as regiões autónomas são insuficientes para governar um dos mais pequenos países da Europa e do mundo e preparam-se para acrescentar mais uns cargos políticos regionais para empregar o excesso de militantes.

Os portugueses não vão ser sacrificados porque ocorreu uma guerra, uma catástrofe natural ou porque decidiram modernizar o país no próximo ano, vão ser sacrificados para se poder pagar o que alguns gastaram nos anos anteriores. Digo alguns, porque muito poucos beneficiaram das facilidades concedidas por Teixeira dos Santos no aumento da despesa, ainda por cima uma despesa inútil, feita à base de carros, fotocópias, beberetes e ajudas de representação.

Os portugueses não beneficiaram com o buraco de três mil milhões de euros enterrados pela CGD no BPN e de que vão resultar menos lucros do banco público a entrarem para o orçamento, não beneficiaram dos 14.000 milhões de euros de dívidas ao fisco que estão empilhados nos tribunais e que o governo nada fez para os recuperar, os portugueses não beneficiaram dos milhões de dividas fiscais que prescrevem a todo o momento, os portugueses não beneficiaram do fracasso de Teixeira dos Santos na gestão da máquina fiscal onde dirigentes incompetentes foram louvados. Nem beneficiaram, nem foram tidos ou achados e nem sequer foram avisados, ainda há três meses nos garantiam que a fartura continuaria.

Até estranho que não acha mais gente na procissão que se tem formado à porta da sede do PSD, já lá esteve o Pina Moura, o tal superministro que juntou a economia às finanças e ainda chegou a adoptar 50 medidas para reduzir a despesa pública, os banqueiros que injectaram crédito fácil, investiram em negócios financeiros da Dona Branca e agora queixam-se de dificuldades de financiamentos, já só falta mesmo lá ir o Dias Loureiro implorar a Passos Coelho que deixe passar o orçamento, não vá alguém lembrar-se dos que enriqueceram à custa do BPN e agora deverão estar-se a rir dos que lhe vão pagar a factura.

Não há maus orçamento, o que há é maus ministros das Finanças, ministros incompetentes que depois passam o resto da vida a enriquecer ostentando e usando o estatuto de ex-ministros das Finanças como temos assistidos nos últimos tempos, os que arruinaram o país com a sua incompetência aparecem agora nas televisões dando conselhos bem pagos, livres de IVA e pagando apenas 50% do IRS.