quinta-feira, abril 09, 2015

Oposição ou alarido

Um sindicalista desconhecido que perto do final do mandato sindical tenta mudar-se para as listas de deputados do PS inventa uma perigosa lista que acaba por ser uma lista de testes que, por sua vez, deu lugar a uma listinha que não se percebe bem de três ou de quatro nomes. E por causa das listas e listinhas o país não discute outra coisa há mais de um mês.
  
Os portugueses morreram em barda ao abandono nas urgências, o desemprego aumentou e o primeiro-ministro pôs em causa, o Lambreta mete meio país em formação profissional para inventar emprego, as camas do SNS são reduzidas enquanto as do sector privado aumentam à custa do financiamento público, mas nada disto mereceu mais do que um bocejo por parte da oposição.
  
O governo entrou em letargia e mesmo perante sucessivos resultados que evidenciam as consequências de quatro anos de incompetência vemos um Passos Coelho a ganhar os debates parlamentares ao Ferro Rodrigues. Há quanto tempo a oposição nada questiona sobre o que se passou no ensino? A resposta é simples, o ministro Crato optou por desaparecer da ribalta e a oposição nunca mais o incomodou, a última vez que se ouviu falar dele foi quando o Expresso deu conta do mal-estar dentro do governo causado pelos seus passeios turísticos pelo estrangeiro.
  
Mas não é só o Crato a beneficiar desta preguiça da oposição, as situações mais graves são as da ministra da Justiça e do Opus Macedo, até se fica com a impressão de que estes membros do governo terão sido uma escolha da oposição, tal é o tratamento carinhoso que lhes tem sido dispensado pela oposição e, em particular, pelo PS. Será que estes dois membros do governo têm poderes ocultos que o pobre do Maduro não tem? A verdade é que por questões da treta António Costa interrompeu por várias vezes a sua presidência autárquica, enquanto em relação à Justiça e à Saúde não se ouviu a mais pequena crítica.

A oposição não fez um balanço da troika e permitiu ao governo falar de saída limpa, a oposição não faz críticas consistentes nem enuncia alternativas, há muito que se especializou em casos e casinhos, listas e listinhas, preferindo o espectáculo mediático das comissões parlamentares ao debate de ideias e de propostas no hemiciclo principal que tem sido deixado ao governo.
  
Nunca Portugal teve um governo tão incompetente, nunca um presidente foi tão mal visto e até convidado a retirar-se antes do fim do mandato, nunca os direitos dos portugueses foram tão maltratados, nunca morreu tanta gente sem tratamento no SNS, mas o que mais atrai a oposição não é denunciar o desemprego, a destruição do SNS, a desgraça na justiça, as paranóias persecutórias da ministra da Justiça. 
  
Há quatro meses a esquerda estava à beira de vencer as legislativas e a derrota da direita nas presidenciais era um dado adquirido, mas a estratégia do alarido por parte dos partidos da oposição está a dar resultados, a direita voltou a ter a esperança de ganhar as legislativas e o Marcelo deve estar a rir à gargalhada da chuva de estrelas presidências que surgem à esquerda. Mas pior do que isso, de um dia paara o outro o PS parece estar mais preocupado com as presidenciais do que com as legislativas. 

Em Setembro ficaremos a conhecer as consequências desta oposição assente no alarido.